Setembro_2001 - page 65

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RevistadaESPM–Setembro/Outubrode 2001
tempo parcial. Os internatos
acabaram. E há, por parte do
MEC, uma insistência de que
o professor deve dar tempo
integral. Por que não também
o aluno – como nas universi-
dades americanas?
Amatucci
– Isso está relacio-
nadocomaquestãodoconhe-
cimento e da pesquisa na uni-
versidade.Descobri isso tardia-
mente,nametadedomeudou-
torado.Aprincipal contribuição
da universidade para a socie-
dadenãoéaproduçãode co-
nhecimento; suaprincipal con-
tribuiçãoéa formaçãode líde-
res, dedirigentes, depessoas
capacitadasagerir a socieda-
de. Veja, por exemplo, Prof.
Gracioso, o que o Sr. disse
sobre o Grupo de Boston, da
Universidade de Harvard. Se
compararmos, quantitativa-
mente, quantos instrumentos
produziram, para serem usa-
dos, e quantos profissionais
eles colocaram nomercado –
vamoscomprovar isso.Apes-
quisaé ingrediente indispensá-
vel.Oprofessor-professor,que
gosta de dar aula, é didático,
consegueensinar,épunido,no
sistemaacadêmico tradicional
porque não está publicando,
não está pesquisando. Mas
são coisas diferentes. Na Eu-
ropa,existem institutosdepes-
quisa separados da universi-
dade porque a pesquisa não
tem de ser feita necessaria-
mente na universidade. Pode
ser, o conhecimento está ali
próximo, são coisas que têm
sinergia, mas não são ames-
macoisa.AsociedadedoBra-
sil – e do terceiro mundo em
geral – não dispõe de alunos
comdinheiropara ficar duran-
te 4 anos em tempo integral,
sem trabalhar–sóestudando.
Quando o MEC exige tempo
integraldoprofessor,estáque-
rendo que ele, quando não
estiverdandoaula, fique fazen-
do pesquisas, que geram co-
nhecimento. Asociedade pre-
cisa que o profissional hoje
passe pela universidade, por-
queasociedadeprecisadeci-
ência no trabalho. O nível de
desenvolvimento tecnológicoé
tal, que sema ciêncianãodá.
Mas mesmo esse conheci-
mento científico – que não é
só informação –, pela própria
definição da ciência, é provi-
sório. Podeaté ser questiona-
do.Masnãoépor ser provisó-
rio que não é necessário. É
necessário, sim, mas não se
constitui naprincipal contribui-
ção da universidade.
Luiz Edmundo
–Gostaria de
esclarecerumponto.Acho fun-
damental o conhecimento.
Masum conhecimentoque se
transforme, para responder à
própria evolução da socieda-
de. Quando não damos ênfa-
seà fotografiadoconhecimen-
to,maspreferimosacapacida-
de de aprender a aprender,
estamos pressupondo que
essa habilidade é mais difícil
deser aprendidadoqueade-
monstração de um saber de-
terminado. Issonãoquerdizer
desprezo pelo conhecimento.
Masháum rigormaior sobreo
que precisa ser conhecido. É
um sentido de “estratégia do
quedeveser sabido”.Équase
fazerumahierarquiadoqueeu
precisoparaserumserhuma-
no felize realizado.Voudarum
exemplo. Conheci um profes-
sordeumagrandeuniversida-
deeuropéia, umapessoa fan-
tástica, queacabarade ter um
ataquecardíaco.Aoconversar
comele,surpreendi-medeque
“Tenhouma lista
dehabilidades
queaempresa
queme
contratouestá
procurando.
Tento identificar
ashabilidadesde
cadaum.Oque
eleestudoué
problemadele.”
“Emúltima
análise,
o responsável
pelopróprio
desenvolvimentoé
oalunoenãoa
universidade.”
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