Setembro_2001 - page 79

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Revista daESPM – Setembro/Outubro de 2001
queestudar16eagora,comopós-
graduação, teráde fazer20epou-
cos anos de estudo. Isso não re-
presentaumproblema?
JM–Para responder àsuapergun-
ta, eladeveser inseridanomomen-
to de transição que estamos viven-
do. Se olharmos a evolução da so-
ciedade humana, ele só viveumo-
mento semelhante duas vezes an-
tes. O primeiro momento foi quan-
do elamudou da fala para o escri-
to.Eosegundo, quandoela imigrou
do escrito para o impresso. A cada
umadessasmigrações–umaocor-
reuhá10mil anoseaoutrahá500
anos – viveu-se uma revolução no
conhecimento humano. Refiro-me
às revoluções científicas e
tecnológicas.
JR – Parece que as primeiras
preocupações escritas foram
preocupações contábeis.
JM–OSr. tem razão. Sãopreocu-
pações contábeis, éaquestãodos
registros, para viabilizar as trocas
decorrentes dos primeiros exces-
sos acumulados pela agricultura
perene. Mas, depois, surgem
ícones que simbolizam ações. Na
áreadegestãosurgeaprospectiva
e a estratégia. Ela aparece nos
hieroglifos coma formadeumagi-
rafa com o seu olhar em todas as
direçõesedesejodeenxergarmais
longe, oseupescoçoesticadomas
comos pés no chão. Toda vez que
passamos para uma nova era, há
um sentimento de descoberta que
toma conta da sociedade. São 10
a 12 anos de formação na área da
Medicina–queéumciclo longode
formação–apartir domomentoem
queo jovem iniciaagraduaçãoaté
ele começar a trabalhar. Por quê?
Porque a revolução do conheci-
mentoé tão rápidaqueeleprecisa
se imbuir da tradição do passado
e tambémnoquehádemaisavan-
çado.Emoutrasáreasnovas, como
aComputação, osalunosno4º ano
de graduação já estão sendo atra-
ídospelomercadode trabalho. Isso
é típico dos momentos de transi-
ção.Agora, quandoaesperançade
vida aumenta, todos precisam da
aprendizagem contínua. Paraatra-
vessar a transição, o ser humano
procura conectar-se comomundo
através da aprendizagem. Caso
contrário, podese isolar pelaviado
fundamentalismo religioso ou filo-
sófico. Escolhe um só livro e faz
deleaprincipal fontede inspiração
para viver. Cabe ao ser humano
inspiração filosófica ou religiosa,
mas mantendo-se conectado com
o mundo em evolução. Cabe evi-
tar a armadilha dos extremos. De
um lado, unsquerem ler tudo. Eles
lêem 5 jornais, 4 revistas, tentam
acompanhar tudoqueépublicado.
Isto provoca uma alta ansiedade
decorrente de uma sobrecarga de
informações, sem a possibilidade
de devolver à sociedade algo para
deixar o mundo melhor. Do outro
lado, o fundamentalista inspira-se
em uma única idéia e quer que o
mundo sejaexplicadopor um livro.
Os extremistas tolhem a liberdade
do outro de pensar de forma dife-
rente.Aspessoasmaissábiasaca-
barão encontrando o meio termo.
Dada a velocidade dasmudanças,
precisam de uma inspiração mais
elevada, baseadaemvalores. Pre-
cisamdeumadoutrinaque vemda
sabedoria acumulada por várias
gerações. É preciso manter-se
conectado e isso significa entrar e
sair do sistema educacional várias
vezesduranteavida, comoospar-
ticipantesdoprojeto "Universidade
Aberta à Terceira Idade".
JR–Oquecausaumacertaneu-
roseéqueomercadodetraba-
lhovalorizao "jovem". Háuma
exigênciade juventudenamai-
oriadasatividades– talvez,não
na medicina que o Sr. citou –
masparaamaioriadasativida-
des econômicas, hoje, o perfil
etárioémuito jovem. Isso tor-
naaaposentadoriaaos50ou60
anos um absurdo social, mas
continua sendopraticada.
JM – Aqui na USP, a aposentado-
riaé compulsóriaaos 70anos. Pe-
dimos aos aposentados que conti-
nuem trabalhando na Universida-
deem seusprojetos.Muitosdeles,
comoos professoresMiguel Reale
eCrodowaldoPavan, commaisde
80 anos, trabalham com lucidez e
trazem para a juventude, que vive
aansiedadedavelocidadedas ino-
vações, a sabedoriadomaisexpe-
"Temosaqui, deum
lado, os
departamentosde
Físicaoude
Astrofísica, que
pensamomundo
dentroda suavisão
universal, ou seja,
de12a14bilhões
deanos."
"Adiversidadede
geraçõesdecorre
dauniversidade
quecuidadacreche
atéauniversidade
abertaà terceira
idade."
1...,69,70,71,72,73,74,75,76,77,78 80,81,82,83,84,85,86,87,88,89,...98
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