Globalização
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Revista da ESPM
| setembro/outubrode 2013
Quetalexportar
nossosserviços?
OBrasil enfrenta uma crise cambial, e a solução rápida e definitiva pode estar
na exportação de seus serviços. Mas por que as empresas brasileiras são tão
modestas quando se trata de prestar seus serviços nomercado externo?
Por João RicardoMatta
O
Brasil viveumcenáriocomplexode recente
valorizaçãododólar.Frutodeumpossívelrea-
quecimentodaeconomianorte-americana,
esse fenômeno vem sendo encarado pelo
governo brasileiro como algo que pode ser contra-atacado
commedidasortodoxas, comoavendamaciçadedólares.
Nestemomento,venderdólaresparafrearasubidadopreço
damoeda americana é como tentar acabar coma febre de
uma criança com banho gelado — pode funcionar em um
primeiromomento,mas, se vocênãocombater a causado
problema, a febre voltará e, talvez, atémais forte.
Oproblemabrasileiroésimplesdeentender:comamelho-
ria da economia norte-americana, os investidores inter-
nacionais podem repatriar seus recursos para os Estados
Unidos, queagorapagammais jurospor investimentosem
suas fronteiras. ComoosEstadosUnidossãoconsiderados
opaísmaissegurodomundoparase investir, rapidamente
ocapitalinternacionaldirecionouseusinvestimentospara
lá,causandoumadiminuiçãodofluxoparaospaísesmenos
seguros,comooBrasil,ummovimentoquedesequilibrouas
nossascontas.Commenosdólaresentrandoemaisdólares
saindo, ovalordamoedaamericanasobe. Simplesassim. É
umaquestãodeoferta
versus
demanda.
Mas o que pode ser feito pelo Brasil? Ficar esperando a
boavontadenorte-americanaouqueosbonsventosvoltem
asoprarparaosladosbrasileirosnãosãoboaseresponsáveis
alternativas para a sétima economia domundo. Por outro
lado, medidas puramente econômicas são, normalmente,
artificiais e ineficazes, ou, quando funcionampara frear a
queda do real, acabam trazendo dolorosos efeitos colate-
rais para o país, como, por exemplo, o desaquecimento da
economiaprodutiva. Então, que tal atrairmais dólares por
meiodaexportação?Masnãopelaexportaçãodeprodutos
ou
commodities
,querequergrandesinvestimentoseosresul-
tados na balança comercial são sempremuitomais demo-
rados. Que tal exportar serviços?
Durantedécadas, os economistas consideravamqueos
serviçosnãoerammercadorias “exportáveis”devidoàsua
naturezanão concreta. Afinal, emumcenáriomundial de
telefonemas interurbanos caros e de péssima qualidade,
existência de poucas e ineficientes companhias aéreas,
ausência de computadores e nem a mais longínqua pers-
pectiva da invenção da internet, como se poderia imagi-
narexportaralgointangível?Ainclusãodosserviçoscomo
itens “exportáveis” deveu-semuito ao avanço tecnológico
emtodoomundo.Há20anos, uma ligação telefônicaentre
Rio e Nova York custava tão caro que as pessoas precisa-
vam planejar esse contato ou corriam o risco de ver seus
orçamentoscomprometidosnofimdomês.Hoje, omundo
fazmais de 500 bilhões deminutos de chamadas interna-
cionais, sendoquequase35%delasacontecempormeiodo
Skype—empresa recentemente comprada pelaMicrosoft,
que permite aos usuários ligações compreços reduzidos,
chegandoa fazer comqueuma ligação telefônicaentreRio
eNovaYorknãocustemaisdeR$0,10porminuto.
Alémdisso,desdeoiníciodoséculo20atéofimdosanos
de 1970, o próprio cenário econômicomostrava uma pre-
ponderância total dosprodutosnoPIBmundial. Essefluxo
foi invertido somente a partir da década de 1980. Em2012,
o setor dos serviços passou a responder por 63,9% do PIB
mundial, e quase 80%do PIB, se considerarmos apenas os
países mais desenvolvidos como Estados Unidos, Reino
UnidoeFrança.
Essecenáriomostraqueaalternativaéviávelejáfoiado-
tada pormuitos países nomundo. Apesar de oBrasil deter
a liderança das exportações de serviços entre os países da