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Revista da ESPM – Março/Abril de 2002
Esse é o crime organizado do fute-
bol. Não tenho a menor dúvida. Isso
penaliza o espetáculo? De certa
maneira, sim. Desvirtua as caracte-
rísticas fascinantes do futebol. E eles
– os dirigentes – estão cada vez
mais ricos. Se você não substituir
esses dirigentes – já reconhecida-
mente corruptos – através de uma
legislação mais rigorosa; se você
não criar condições para substituí-
los, com certeza o futebol vai per-
der a sua razão de ser. Embora se
constatem coisas curiosas. Por
exemplo, o que acontece no cam-
po, no futebol brasileiro, nesse mo-
mento, é bem interessante – ele está
bem jogado. O campeonato brasi-
leiro – que terminou em dezembro –
foi um belo campeonato. Mas isso é
algo que acontece no campo, no ní-
vel dos jogadores.
JR – Isso já dizia o Flávio Costa,
nos anos 50, que o futebol
brasileiro só havia evoluído da
boca do túnel para dentro do
campo…
AN – Isso foi há 50 anos e continua
sendo uma verdade. Nessa época,
evidentemente, era em doses meno-
res, já havia tráfico de influência,
velhacaria. Era uma época dolorosa,
de transição do pré-profissionalismo.
Havia suborno de jogadores. Hoje
em dia, você não pode nem imaginar
isso. Mas, na verdade, se a qualida-
de técnica dos jogadores não piorou
– e acho que não piorou –, ficou mais
difícil jogar, por razões que já conhe-
cemos. Mas, o que piorou muito foi a
gestão administrativa, a gestão políti-
ca. Nesse quadro, o Brasil se transfor-
mou emumexportador dematéria-pri-
ma. Exportamos 25.000 jogadores nos
últimos 10 anos.
JR – Pergunto a você – que
sempre esteve rodeado de
profissionais de marketing,
participando inclusive de uma
grande empresa de comunicação
como a Globo: uma coisa que o
Brasil não tem são marcas. A
revista
Fortune
, todo ano, publica
as 100 maiores marcas do mundo
e o Brasil nunca teve nenhuma
entre elas. Mas, entre as marcas
do futebol, a marca do Flamengo
é considerada uma das cinco ou
seis marcas esportivas mais
importantes do mundo. Por que,
então, o clube está nessa crise
terrível? Não tem nem time para
colocar em campo.
AN – Mas, aí que está. É a gestão,
“Umevento de
futebol, pela
televisão, dá dez,
vintevezesmais
audiência.”