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Revista da ESPM – Março/Abril de 2002
Havia um programa chamado “No
mundo da bola”, que todos ouviam.
AN – Minha sorte, quando entrei no
Diário Carioca
, é que não entrei num
jornal com características industriais.
Entrei numa escola de jornalismo,
em que só havia mestres. Lá estava
o Prudente de Moraes Neto, que
assinava seus artigos com o
pseudônimo Pedro Dantas. Lá
estava o admirável J. Edmundo de
Macedo Soares, que era o principal
articulista. Pompeu de Souza, Carlos
Castelo Branco. Fui um privilegiado
por ter ficado à sombra dessa
geração maravilhosa, que me
ensinou as lições básicas de jornal.
Porque, pouca gente sabe, mas foi
o
Diário Carioca
que introduziu no
Brasil a técnica do “lead”: quem
como, quando, onde, porquê. Foi o
Diário Carioca
que inovou.
JR – O dono não era o Danton
Jobim?
AN – O Danton Jobim era o redator
chefe, não era o dono. O dono
chamava-se Horácio de Carvalho.
Ele não tinha nenhuma tradição no
negócio, mas acabou amigo do
Macedo Soares, que tinha fundado
o jornal. O Horácio de Carvalho era
um homem rico; envolvido com
minas de ouro, com um grupo
americano, muito forte – acabou
transformando o
Diário Carioca
em
jornal modelo. Era curioso,
comparava-se o Diário Carioca com
O Dia. Dizia-se: “
O Dia
vende muito,
mas não é capaz de derrubar um
delegado de polícia. O
Diário Carioca
vende pouco, mas é capaz de
derrubar um ministro”.
JR – Armando, vamos falar mais
de esporte. O que fazia um
jornalista esportivo na década de
50? Às vésperas da Copa do
Mundo, qual era o seu trabalho?
AN – Assistir aos
jogos era uma
segunda fase. A
primeira fase era
cobrir os clubes.
JR – Em 1950,
“esporte” era
futebol. Ou já
havia outro es-
porte de expres-
são jornalística?
AN – De expres-
são relativa, havia
o
basketball
. No
fim dos anos 40,
início dos anos
50, tinha umcará-
ter estritamente
regional. Mas ti-
nha certa expres-
são.
JR – Isso se re-
fletia na im-
prensa?
AN – Já havia
cronistas espe-
cializados embasquete, nos jornais do
Rio de Janeiro, nos anos 50. Sinal de
que os jornais davam alguma atenção
a esse esporte. Mas, avassala-
doramente, indominável, era o futebol.
Aliás, continua a dominar, de
maneira massacrante, em todo o
mundo. Muitos pensaram que a
diversificação da cobertura olímpica
pudesse tirar do futebol a sua
liderança, mas não tirou coisa
nenhuma. Você vê nas pesquisas
que um evento de futebol, pela
televisão, dá dez, vinte vezes mais
audiência do que o mais visto dos
esportes em moda, desde o
basquete, o vôlei, Fórmula 1; o tênis,
com o fenômeno Guga.
JR – Você começou em maio e, em
junho, já via a final da Copa, que o
Brasil perdeu. Então, você começa
a sua carreirade jornalista esportivo
com um tremendo trauma...
AN – Mas eu ainda não tinha passa-
do, nem de leve, pela lavagem cere-
bral que a profissão exerce sobre
cada um de nós. Antes de tudo, eu
era um torcedor do Botafogo...
JR – Você veio do Acre já como
torcedor do Botafogo?
AN – Na primeira semana em que
“O slogan do
DiárioCarioca
era
‘o máximo de
jornal no mínimo
deespaço.”