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Revista da ESPM – Março/Abril de 2002
JR – Tratando de outros esportes:
o Guga andou perdendo muito e
também é um homem rico. Você
acha que existe uma relação entre
as duas coisas?
AN – Existe e permanentemente
existirá um certo relaxamento, uma
certa saturação. No caso particular
do Guga, eu tenho uma desconfian-
ça – que vem desde o primeiro ano
em que ele ganhou o título, em 1997
em Paris. Eu fiquei preocupado com
a estrutura muscular do Guga, para
suportar a maratona que é uma tem-
porada de tênis, variando de quadra
rápida para quadra lenta; quadra
dura para quadra mole; hotel, con-
centração, viagens, aeroporto. E eu
sempre achei que o Guga deveria ter
incorporado ao seu time – ao lado do
Larry – um preparador físico que de-
senvolvesse a sua musculatura, tan-
to dos membros inferiores quanto a
musculatura lombar. Ele precisava. In-
clusive fui alvo de algumas críticas, de
círculos mais próximos dele – o pró-
prio treinador me pôs na lista negra
porque eu estava querendo “inventar”,
dizendo que o Larry tomaria conta dis-
so. Mas o Larry não é um preparador
físico; não entende nada de fisiologia.
E a verdade é que todos os tenistas
têm o seu
personal trainer
, que é o
sujeito que trabalha a sua musculatu-
ra. Depois de passar um ano, martiri-
zado por dores lombares, pubiana,
com problemas no quadrícepes, no
ombro, o Guga estreou, em Buenos
Aires, e já estreou, chamando o mas-
sagista. Talvez seja um dos tenistas
mais assistidos por um massagista
durante uma temporada. Por quê?
Porque não preparou a musculatura
para a grande batalha que é ter que
sacar a 180 km/h, a correr em quadra
dura, a correr em sol quente, embai-
xo de calor, frio. É uma grande prova-
ção. Ele ganhou muito dinheiro. Mas
– em apenas cinco, seis anos de car-
reira – é muito pouco tempo para es-
tar tão espoliado.
JR – E o automobilismo? Eu tenho
saudade do Senna. Mas também
tenho uma saudade imensa do
Nelson Piquet, do Emerson
Fitipaldi. Até do José Carlos Pace.
O que houve? Hoje há mais gente
correndo e, no entanto, não temos
mais aquelas alegrias que
tínhamos com a Fórmula 1.
AN – Acompanhar a Fórmula 1 não
é o meu forte. Mas você citou o Air-
ton Senna, o Nelson Piquet,o Emer-
son Fitipaldi. O José Carlos que foi
vítima de uma fatalidade – morreu
quando estava despontando, pilotan-
do um avião. E impressionante. Ou-
tro dia conheci um jovem que está co-
meçando a fazer sucesso na Fórmu-
la 3. Bati um papo com ele. Ele já ga-
nhou alguns troféus. A quantidade de
brasileiros correndo no circuito inter-
nacional é inimaginável. Nós temos
uma vocação para velocidade, não há
a menor dúvida. Temos perspectivas
de formar novos pilotos. Mas, figuras
excepcionais – extra-classe – a gen-
te não tem assim de uma hora para
outra. Quanto tempo nós levamos
para ter um Guga, depois de ter tido
uma Maria Esther Bueno.
JR – Não é um acidente termos um
Guga em um esporte tão pouco
praticado no Brasil como o tênis?
Omaior tenista que tivemos antes
foi o Tomaz Koch. Mas acho que
ele nunca chegou a estar entre os
dez primeiros.
AN – Koch, que tinha um grande ta-
lento, jogou fora o seu tênis. Eu cos-
tumo dizer que a glória e a fortuna são
duas serpentes, que se escondemnos
jardins dos desavisados. A verdade é
essa. E é o que acontece com todos
eles. Aconteceu com o Tomaz. Até
porque ele dissipou a sua carreira e
começou a fazer bobagens – menini-
ces, delírios. Tivemos outras promes-
sas como o Cássio Mota. Na verda-
de, o fenômeno Eder Jofre se repetiu
quase cinqüenta anos depois com o
Popó. A Maria Esther Bueno, segun-
do me diziam um dia desses, foi um
fenômeno mais extraordinário do que
o Guga, para aquela época.
JR – Ela foi mais consistente do
que o Guga.
AN –Mais consistente e mais dura-
doura. E depois ela teve um proble-
ma no braço. Eu perguntei a uma
pessoa como se explica isso. E ela
disse: “Porque Maria Esther Bueno
“A diferença é que
os argentinos eos
francesesestão
muito felizes e
confiantes com as
seleções deles.”