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Revista da ESPM – Março/Abril de 2002
JR – Que aliás, você como bom
literato – paralelamente à sua
carreira – não só influenciou
como tem condições de
avaliá-la.
AN – Eu estou avaliando
aos poucos. Estou até com
medo. O que acontece?
Ela mora com a mãe
nos Estados Unidos
e estuda lá. Então,
está sofrendo
uma influência
cultural dos
Estados Uni-
dos. E numa
época em
que está
exacerbado o sentimento nacionalis-
ta americano. Eu fico com medo que
ela fique imbuída desse sentimento e
perca as suas referências brasileiras.
JR – Como você vê as carreiras
profissionais mais ligadas ao
esporte: esportista, jornalista,
empresário de esporte?
AN – Eu tenho de admitir que, o que
antes era uma coisa de puro prazer
– que não tinha remuneração
satisfatória –, hoje, vale a pena como
investimento. Eu não acredito que a
geração Eurico Miranda – que é a
geração que manda no futebol bra-
sileiro – perdure. Até porque vai ha-
ver forças biológicas por uma suces-
são e novos quadros virão por aí.
Acho que o marketing esportivo é um
bom caminho para o jovem. O jorna-
lismo esportivo, exercido com sen-
so crítico, é um bom caminho. Inclu-
sive com a perspectiva da televisão,
oferece uma oportunidade muito boa
para quem se preparou, se qualifi-
cou, cuidou da sua dicção, da sua
articulação verbal, da sua capacida-
de oral. Outro dia, em conversa com
o Elton Simões, surgiu a pergunta:
por que não fazemos uma empresa
para formar profissionais em jornais,
rádio e televisão, no esporte? Por-
que, nas universidades, já existe, no
currículo, uma cadeira de jornalismo
esportivo. A formação do jornalista
esportivo é peculiar; é diferente da
formação na carreira de qualquer
outra vertente do jornalismo, porque
é respaldada por um sentimento de
amor ao esporte, que torna muito
mais autêntico o papel do cronista,
do jornalista esportivo. Ele vai fazer
uma coisa da qual ele gosta e que
até gostaria de fazer, de praticar.
Quem de nós não jogou uma pelada
quando garoto? E, na verdade, fa-
zer profissionalmente aquilo que
você
gostaria
de
fazer
prazerosamente proporciona uma
dupla alegria – profissional e senti-
mental, pessoal de fazer aquilo.
Quando eu saí da TV Globo – em
1990 –, me ofereceram algumas
oportunidades profissionais – até de
dirigir departamentos de jornalismo
de outras redes – e eu disse: “eu fiz
e vou fazer a melhor opção. Vou vol-
tar a escrever sobre o que gosto”.
Apenas abri o meu leque. Como a
televisão trouxe para cá os jogos
olímpicos; como surgiu o vôlei; como
apareceram os esportes olímpicos
de um modo geral. E eu disse: “vou
tentar gostar desses esportes; não
entendê-los, mas começar a gostar
deles, porque eu estarei no meu pe-
queno mundo, no meu universo,
tinha mais
talento do que o
Guga”. Porque o Guga
se tem inspiração, é muito mais
transpiração. Então, voltamos àque-
le ponto da nossa conversa. O Guga
devia – em nome da transpiração,
da necessidade de malhar que ele
tem porque ele treina demais – ter-
se fortalecido melhor. Ele devia ter-
se transformado no atleta que nun-
ca foi, porque faz um esforço muito
grande para chegar à perfeição da-
quelas paralelas. Coisa que a Ma-
ria Esther não fazia. Até porque, na
época dela, ninguém treinava tanto
quanto se treina hoje em qualquer
esporte.
JR – O esporte é ummaterial muito
rico, interessante. Gostaria de
continuar – pois há tanta coisa de
que não falamos. Mas, Armando,
você tem filhos, netos?
AN – Tenho um filho que trabalha
no SporTv – dirige eventos. Nesse
momento, está fazendo os jogos da
Olimpíada de inverno. O nome
dele é Armando Augusto Maga-
lhães Nogueira. Ele está fechando
o projeto da Copa do Mundo na
Coréia e no Japão. E tenho uma
neta que não sei se vai ter inclina-
ções esportivas. Mas, poéticas, eu
já vi que tem, porque quando me
escreve, me manda um poema. E
com oito anos de idade!
“Televisãoéum
ato coletivo. Eu, fui
uma peça de uma
bela engrenagem
que foi montada
na Rede Globo.”