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Revista da ESPM – Março/Abril de 2002
craque, todos ficam logo excitados.
Puxa! Deram uma oportunidade ao
Djalminha. Paralelamente a essa
convocação,
começam
as
conversinhas de bastidores. O
Felipão já se acertou com o La
Coruña. Vai ser o técnico do La
Coruña, depois da Copa do Mundo.
São maledicências, são insinuações,
irreverências que, de certa maneira,
conspurcam o ambiente do futebol.
E a gente fica numa profunda inse-
gurança. Eu fico, porque sempre
considerei o Felipão, profissional-
mente, mas não sei até que ponto
existem pressões, que levam o cida-
dão a tomar essa ou aquela decisão
em vez da decisão melhor. Na ver-
dade, quando o sujeito é posto numa
condição como essa do Felipão, fica
a um passo da alienação. O poder é
muito grande. O sujeito, com a mai-
or naturalidade, diz que não lhe inte-
ressa a opinião do povo. “Eu não
quero saber o que o povo está pen-
sando. Eu não vou levar o Romário.”
Tem gente que me acusa de lobista
do Romário. Eu sou lobista da obra
do Romário. Não quero nem ser
amigo do Romário.
o Romário poderia ser útil à seleção.
Ao contrário do que muita gente pen-
sa, o Romário é um jogador diferen-
ciado, mesmo parado na grande
área. Fico impressionado de ver o
fenômeno Romário na grande área.
A grande área, para mim, sempre foi
um labirinto, mas um labirinto que o
Romário palmeia com um grande
discernimento, sabendo a hora exa-
ta em que vai dar um chute decisivo.
O último jogo do Romário, por exem-
plo. Havia um bolo de 10 a 15 joga-
dores na grande área. Se você olhas-
se um por um, não via o Romário.
Mas ele estava em campo. Ele se
isolou no momento em que estavam
todos hipnotizados pela bola. E ele
não está preocupado com a bola
porque sabia que a bola ia chegar a
ele, se ele não estivesse no bolo da
bola. Isso é um fenômeno que me
fascina no Romário. Evidentemente
que alguém do time dele vai localizá-
lo num determinado momento e pas-
sa a bola para ele, que recebe limpa
e faz o gol. Mas isso é uma grande
clarividência que ele tem, aliada a
uma capacidade de chutar a gol, sem
tomar distâncias e com uma preci-
são e pontaria que ninguém tem.
Mas ele não pode jogar de três em
três dias, com 36 para 37 anos. É
capaz de não poder realmente. E ele
adora a noite e não pode viver sem
ela. Então, ele não é um atleta; ele é
um artista. Mas se não pode jogar
de três em três dias, pode jogar de
três em três dias, trinta minutos. Se
não pode jogar noventa, pode jogar
trinta. E eu acho que um jogador
como esse, em um momento como
vive o Brasil – seria a grande espe-
rança do futebol brasileiro. Há sem-
pre uma esperança. Em 1938, era o
Leônidas; depois, passou a ser o
Pelé; depois, o Garrincha. Na verda-
de, a grande esperança, que pode-
ria ser o Ronaldinho, é o maior pon-
to de interrogação que nós temos.
Ninguém pode afirmar – nem ele –
que terá condições de jogar.
“Vou à Copa como
mediador pós-
transmissõesdo
SporTv, tendo um
Spor
deliciosobate-
papo como
Rivelino, como
Júnior e o
Leivinha.””
JR – O Romário, em algum
momento da carreira dele,
ganhou, em um ano, mais do que
o Pelé ganhou na vida toda como
jogador de futebol. Isso não é
absurdo? O Romário hoje é um
homem muito rico. Como é a
cabeça desse homem tão rico
para jogar futebol?
AN – É complicado. E para sujeitar-
se às normas de uma seleção, de
uma convocação, um homem com
espírito disciplinador como parece
ser o Felipão. Eu sempre achei que