Revista ESPM - março/abril 2002 - page 67

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Revista da ESPM – Março/Abril de 2002
e que detêm todo o poder. Você nun-
ca ouviu falar que uma federação –
seja ela qual for – esteja
inadimplente. Mas você ouve falar,
a toda hora, que os clubes estão fa-
lidos. Por quê? Porque as federa-
ções são parasitas dos clubes. Esse
fenômeno poderia ter ocorrido na
Europa, mas não ocorreu, porque os
clubes fizeram um pacto entre eles,
formaram um grupo com atuação in-
ternacional, que se chama o “clube
dos ricos” – são sete ou oito.
JR – Como os próprios países
que, hoje em dia, estão
associados no G7.
AN – Pois bem. Esse G7, no futebol
europeu, é o G14 e que agora já é o
G20. São os 20 mais poderosos clu-
bes europeus que se juntaram, cri-
aram uma liga e com essa liga neu-
tralizaram as federações. Um fenô-
meno que está se desenhando aqui
no Brasil, mas sem perspectivas,
porque vai depender de uma legis-
lação que não sai. De uma medida
provisória, que está sendo aguarda-
da, não sei há quanto tempo, e não
saiu até agora. Por quê? Porque o
poder dos clubes está na mão das
federações que, por sua vez, estão
na mão da CBD, da CBF e que, por
sua vez, está na mão da FIFA.
JR – Mas a FIFA também
regulamenta as federações
européias. Então, por que eles
conseguem se organizar?
AN – Porque os clubes de lá têm uma
administração mais profissional; são
muito mais controlados pelo poder
público, sobretudo nos últimos cinco,
seis anos, quando se transformaram
em sociedades anônimas e têm que
prestar contas, apresentar balanço de
cada exercício. Eles têm responsa-
bilidade. Coisa que no Brasil não exis-
te porque a legislação ainda não foi
implantada. Na verdade, estamos vi-
vendo um momento decisivo. Que
pode retroceder, com a retomada do
poder da CBF sobre os clubes que
tentam se organizar com a liga nacio-
nal, através doClube dos 13. Que está
“levando bordoada” de todos os la-
dos, das federações, porque as fe-
derações são o poder político e um
poder que se torna intocável pela
FIFA. Eu estava lendo um livro emque
se conta a história de uma tentativa do
presidente do Flamengo – se não me
engano, o Marcio Braga – de contes-
tar a reeleição do Ricardo Teixeira. Ele
recebeu uma ameaça da FIFA, dizen-
do que se ousasse tocar no Ricardo
Teixeira, ia ver. Coisa que o presidente
da FIFA já fez com o ministro Melles.
O ministro me contou que foi à FIFA,
pessoalmente, conversar comoBlatter
sobre a situação constrangedora que
vivia a CBF. E o Blatter, com a maior
insolência, disse a ele: “Que o gover-
no não ouse tocar na CBF, porque nós
desfiliamos o Brasil”.
“O rádio não me
deu oportunidade.
Bemque eu quis,
mas eu erameio
gago.”
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