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Revista da ESPM – Março/Abril de 2002
JR – Armando, você já começou
sua vida profissional trabalhando
em jornalismo?
AN – Sempre. Nasci no Acre; fui re-
visor do
Jornal Oficial
no território do
Acre. Nessa função, eu já sentia
uma certa “inclinação” – não gosto
dessa palavra. Fui um bom aluno de
português e só. Nenhuma outra ma-
téria, no primário e no secundário,
me fascinou tanto.
JR – Por que será que o pessoal
do norte/nordeste do Brasil tem
tanto amor pela palavra?
AN – Nunca me detive para pensar
nisso. Quem sabe, poderíamos
especular em torno de uma coisa que
é a musicalidade da palavra e que –
até por razões climáticas nas regiões
Norte e Nordeste – é mais acentuada.
Acho que a palavra exerce umgrande
fascínio sobre o nordestino e o nortista
de um modo geral. Se você for
pesquisar a literatura deCordel, vai ver
que não é uma literatura escrita – é
uma literatura falada, muito musical,
feita para ser cantada. No meu caso,
o gosto pela palavra veio primeiro, pelo
interesse que eu tive pela gramática
e, sobretudo, pelas figuras de
linguagem – uma coisa que me
fascinou muito nos primeiros anos de
estudo. Quando a palavra começa a
adquirir um sentido místico, um
sentido metafísico, começa a ter uma
existência espiritual, e não essa
coisa concreta que a gente,
primariamente, domina. Lembro-me
de que, todas as vezes que ia para o
colégio, ainda no primário, passava
na porta de um hotelzinho onde
estava, plantado a uma mesa,
tomando gim com vermute, o
promotor público da cidade, que era
um poeta chamado Juvenal Antunes.
Poderia, sem erro, até declamar os
seus poemas. Ele declamava aos
Entrevista
“Apalavraexerce
umgrande fascínio
sobre o nordestino
e o nortista de um
modo geral.”