Revista ESPM - março/abril 2002 - page 80

Revista da ESPM – Março/Abril de 2002
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1. Introdução
No dia 1.º de julho de 1999, o mer-
cado de cervejas e refrigerantes foi sur-
preendido pelo anúncio da fusão de duas
grandes empresas do setor brasileiro, a
Antarctica e a Brahma, formando a ter-
ceira maior cervejaria do mundo, a
AmBev, Companhia de Bebidas das
Américas (American Beverage
Company). A união passaria a concen-
trar 73% do mercado de cerveja, fato que
desagradou a muitos no setor e levou o
Cade (Conselho Administrativo de De-
fesa Econômica) a suspender a fusão até
que fosse avaliado o impacto do aconte-
cimento no mercado interno.
A “guerra” foi mais visível e direta en-
tre as marcas de cerveja, um segmento que
é bastante promissor noBrasil, que é oquar-
to maior mercado do mundo. Porém, perto
de outros países o consumo
per capita
de
cerveja noBrasil ainda é baixo, ficando em
torno de 44 litros, frente aos 100 litros
per
capita
consumidos na Alemanha e aos 80
litros consumidos nos EUA.
Apesar de toda a controvérsia, no fi-
nal a fusão foi aprovada, o que mudou
totalmente o panorama competitivo nes-
se setor, no Brasil. Este caso coloca em
questão as razões pelas quais a fusão foi
realizada, pede para que sejam levanta-
das alternativas à fusão e também que se
discuta a decisão do Cade.
2. Principais
cervejariasantes
da fusão
2.1. Antarctica
Fundada em 1885, por sete empresá-
rios, aAntarctica começou como uma pe-
quena fábrica de gelo e comida. Em 1888,
passou a produzir cerveja, alcançando dois
anos mais tarde 4 milhões de litros produ-
zidos. No ano de 1893, Zerrener, Büllow
& Cia assumiram o controle da compa-
nhia, iniciando um forte processo de ex-
pansão do negócio, sendo uma de suas
ações a compra da Cervejaria Bavaria em
1904. Em 1911, o grupo inaugurou a fá-
brica de Ribeirão Preto, a primeira fora da
cidade de São Paulo.
Em 1922, a empresa começou a pro-
duzir o Guaraná Antarctica, carro-chefe
na categoria refrigerantes, e que ocupa o
segundo lugar no segmento. Nos anos 30,
aAntarctica passou a ser controlada pela
Fundação Antônio e Helena Zerrener,
uma organização filantrópica, que visa-
va ao bem-estar de seus funcionários em
particular e dos necessitados em geral.
Através dos anos, o processo de ex-
pansão manteve-se como prioridade, com
a construção de novas fábricas e compra
de concorrentes mais fracos, entre eles a
Bohemia. Em 1970, a Antarctica produ-
zia mais de 500 milhões de litros de cer-
veja e refrigerantes. Ao final daquela dé-
cada, a empresa começou a se expandir
internacionalmente, através da exportação
do Guaraná Antarctica.
Nos anos 80, foi formado o Grupo
Antarctica com22 empresas coligadas. Em
1992, a Antarctica iniciou um profundo
processo de modernização, para enfrentar
o mercado que se tornara mais competiti-
vo. Nesse processo, a empresa reduziu o
quadro de funcionários, aumentou a qua-
lificação de novos profissionais contrata-
dos e ampliou sua linha de produtos.
Ao longo dos anos 90, o segmento
de cerveja começou a ficar cada vez
mais competitivo com o fortalecimen-
to da Brahma e com o crescimento da
Kaiser, o que tornou o quadro desfa-
vorável para a Antarctica, que come-
çou a perder fatias deste mercado. Sua
participação, que era de 32% em 1995,
caiu para 24% em 1997. A perda de
participação se tornou constante tanto
no mercado de cervejas como no de
refrigerantes; o grau de
endividamento ficava cada vez mais
alto, chegando a 550 milhões de reais
em 99 e o desânimo atingiu a todos do
Grupo.
1998
Lucro da Antarctica (em milhões de reais)
114
1994
161
1995
110
1996
84
1997
64
Fonte: Economática.
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