Setembro_2001 - page 47

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Revista daESPM – Setembro/Outubro de 2001
filigrana, a urgência sentida de uma li-
çãobem informada, que tem em conta e
respeita a heterogeneidade congenial à
obra de arte.Vigorosa e vigente, traduz
ummodode restituição integral daobra,
peloqual o
intérprete
reconheceeafian-
ça, corajosamente, que, tomada em si
mesma e por si mesma valendo, tal ou
qual obraprevê eprovê suamelhor des-
crição.
Comovimos,
leitura
e
interpretação
designampráticas de compreensão ana-
lítica que incidem sobre
textos
, sejam
verbais, sejamvisuais; sejam, ainda,ver-
bo-voco-visuais, comoosdapoesiacon-
creta.Um
texto
éum tecidodepalavras,
imagens e idéias; de formas de expres-
são e referências no mundo; enfim, de
cores e volumes. Um
texto
supõe uma
estruturação, emmuitos casos análogaa
um jogoprazeroso.
Dessasdefiniçõeselementarespode-
mos saltar parao
hipertexto
, forma con-
temporâneade indexaçãoassociativaou
cruzada de dados armazenados emme-
mória eletrônica: cada fragmento de
in-
formação
ou parcela de
conhecimento
reenvia, automaticamente, a um outro,
emvirtudedeumacontigüidade.Forma-
se um
corpus
textual, sempre provisó-
rio;umacoleçãode informaçõesque, em
motoperpétuo, se faz e se refaz.Àdife-
rençadosvolumes inertes, representados
por uma enciclopédia impressa, o
hipertexto
configura uma expressão di-
nâmica,movente,mutante.
Se, no curso daHistória, estivermos
passandodeuma
escrita
(documental) a
uma
leitura
(instrutiva), entãoestaremos
chegando à comunicação de informa-
ções, à partilha de conhecimentos. Sob
aplausos gerais, pode retornar ao
proscênio intelectual a
arte da interpre-
tação
,hojepotencializadapelasexcelên-
cias do tratamento informático.
Denomina-se
hipertexto
aumproce-
dimentodeconsultadedocumentos (ma-
nuscritos, textos impressos, fotos e re-
produções em geral) que opera de ma-
neira não linear, pondo em relevo ima-
gens oupalavras-chavequepassam a se
chamar
hiperliames
, pois conduzem de
uma parte a outra de ummesmo docu-
mento, bem como de um documento a
outro. Um
documento
– algo que serve
à instrução– remeteráaoutros,pormeio
denexosclaramentedesignados.Emsua
totalidade ou mesmo em qualquer de
suaspartesconstitutivas, todo
documen-
to
se faznúcleooumalhadeuma imen-
sa rede, cujo centro (de articulação se-
mântica)
é
ou
está
, de algummodo; e
cuja periferia (de significações propos-
tas) ainda
viráa ser
, pela interposiçãoe
o uso criterioso de um aparato
tecnológico. Cada
leitor
, agora
nutrido pela obtenção rápida
de informações suple-
mentares à sua
leitura
,
a ela imprimirá, com
toda veemência,
uma confi-
gu r a ç ã o
singular.À
sua ma-
neira própria, criará seu itinerário de
cognição,anteriormentedeterminadopor
sentimentos, experiências e distintos
graus de capacidade abstrativa, bem
como por circunstâncias individuais.
Como jamaiso fizeraantes, eledáosnós,
forma as malhas de sua rede para, tem-
porariamente satisfeito, nela enredar-se,
deitando e rolando.
Uma
representaçãohipertextual
fica
a exigir um recorte do
texto
e uma defi-
niçãosimplesdesuasestruturas;casoeste
texto comporte capítulos, subcapítulos,
parágrafos, etc., tal como sucede com
manuais e compêndios, bastará dar à
máquina indicações precisas acerca da
estruturaçãodo
documento
,bemcomoas
referentesàcorrespondência, termoa ter-
mo, comaestruturaçãoque sedesejees-
tabelecer. Um
programa
(conjunto de
instruções) se encarrega de determinar
possíveis conexões e liames de signifi-
cação. Claro está que, dependendo do
talento, dopreparo e da competência in-
dividuais, serão atados laços significati-
vosdemaioroumenorgraudeoriginali-
dade,permitindoaoconsulenteabrir“tri-
lhas semânticas” (não seqüenciais) por
esta“florestade signos”aque todo
texto
dá origem e incita a percorrer.
Eis que contos e roman-
ces jápodem ser escri-
tos para uma
leitura
realizadaexclusiva-
mente na tela do
computador; e
“Numenoutro
casos,
lamentavelmente,
severifica idêntica
ausênciadeum
esforçoaturadode
compreensão,
respaldadoporum
tino críticoquenão
façadeumprato
finoumprato feito.”
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