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Revista daESPM – Setembro/Outubro de 2001
sepretende) instantâneo.Na teladecris-
tal líquido lampejam pontos, nós e elos
em construção sempre recomeçada, em
organização sempre retomada, pelo
modo
fractal
.Sãoespiraisde
sentido
em
expansão incontida, infinita.
Osimplesacesso imediato(e,aparen-
temente, irrestrito) à
informação
nem
sempre resultaem
conhecimento
adquiri-
do.A
informação
possui,porcaracterísti-
cabásica,altograudenovidade, indosem-
prepelossentidoselementaresà inteligên-
cia; já o
conhecimento
pressupõe sedi-
mentação, indo da experiência primária,
pelacapacidadede imaginar, à inteligên-
cia. Esta última assume então um com-
promisso insubornávelcomocaráter, for-
jando-seodestino.Ser inteligenteésaber
que,parabemseaproveitara
informação
,
faz-se necessário ter algum
conhecimen-
to
.Antes de se ficar rico com a posse da
informação
, deve-se enriquecer com a
busca do
conhecimento
.
A nova
escrita hipertextual
se asse-
melhamais àmontagem de um espetá-
culodoqueauma formade redação, em
que um autor se afana em infundir coe-
rência a um texto linear e estático. Pas-
sa-sedodocumentoaomonumento.Com
o
hipertexto
, amáquina (desejante) ele-
trônica se oferece como “espaço técni-
co” capaz de organizar textos (enlaces
ordenados de sons, traços e imagens) e
listar opções de apreciação crítica.Ava-
liação irredutivelmentepessoal,uma
lei-
tura
pode ser encontrar suportenacons-
telaçãohipertextual, levandoaque, pela
destreza facultadaedesenvolvidaporsua
prática, se alcance certa “autonomia
interpretativa”.Em suaconhecidaprofi-
ciência,
programas
informáticos fazem
comque a seqüência narrativa e o ritmo
do espetáculo suscitem algo como um
“novo olhar”, uma
leitura
tecnolo-
gicamente mediada e que se pretende
interativa.
Leitor
e
espectador
incorpo-
ram umamesma pessoa, passando a, de
maneiraconsciente,mesmo intencional,
dar alegre curso a transformações signi-
ficativas operadas
no
e
pelo
texto que
lêem, ouvemouvêem.
Em um de seus livros dedicados ao
examedescritivodas
novas tecnologias
e
seu impactonaculturado tempopresente,
o filósofo francêsPierreLevypropõeum
estatuto
hermenêutico
para a história da
ciência contemporânea, bem como a da
arte e a da técnica – dadas a riqueza e a
variedade das interpretações que, de um
modooudeoutro,sempreensejaram.Uma
utilização tecnológica ficará, portanto, a
exigiraposseeousoadequadodeum ins-
trumento apto ao exercícioda
interpreta-
ção
, até porque um invento ou uma ino-
vação técnicamovem, aomenospotenci-
Referênciasbibliográficas
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S/Z
. Paris: Seuil, 1970.
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.
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Qu’est-ce que la littérature?
Paris: Gallimard, 1948.
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Essays andAphorisms
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Trad. R. J. Hollingdale. London: PenguinBooks, 1970.
SONTAG, Susan.
Against interpretation
;
and other essays. NewYork:Dell PublishingCo., 1964.
almente, à instauraçãodenovassignifica-
ções, istoé, “signosemação”navidaco-
tidiana. Dela é hoje parte essencial o
es-
petáculomidiático
, com sua (re-) conhe-
cidapompaecircunstância.
Aoarticularaçõeseocorrências,estees-
petáculoprovocaoêxtasecontemplativodo
espectador(“usuárioestético”?),pelaabsor-
çãomais oumenos consciente que faz de
estímulos (
informação
) a ele destinados.A
leitura
, em sua feitura instantâneapor força
da rapidez tecnológica, seaprestaaoexercí-
cioda
interpretação
, agoraalçadaaoeleva-
dopatamardaarte.Seucultivo,ontem,hoje
eamanhã,abrirácaminhos,porqueémedia-
dopelosentimento, timbradopelaexperiên-
cia e coloridopelapalhetamatizadado
co-
nhecimento
.Epoderáinteriorizar-se,demodo
filosófico,emsabedoria.
LembrandoaHermes, deusmitológi-
cogrego–cognominado“mensageiro”ou
“intérprete”dosdeusesdaGréciaantiga–
não são poucos os que, há algum tempo,
chamama tal artede
hermenêutica
.
•
AluizioR. Trinta–
Doutor emComunicação eCulturapelaEscoladeComuni-
cação daUFRJ,Mestre emLetras e Lingüística pelaFaculdade de Letras daUFRJ,
Professor deGraduação ePós-Graduação daUFRJ.