Setembro_2006 - page 37

o Brasil é um laboratório da pós-
modernidade, eleo fazcompureza
d’alma, comoentusiasmodequem
conheceopaísmelhordoqueeu, e
de quem observa que a sociedade
brasileira apresenta condições de
sociabilidade menos engessadas,
menos modernas, menos tolhedo-
ras e inibidoras das manifestações
de desejo do que a sociedade eu-
ropéia. Lembro-medeque, emuma
das suas palestras, ele mencionou
que a sociedade brasileira era uma
sociedade mais “equilibrada” do
que as européias.
Asociedadeeuropéia–porcontade
um regulamentoexageradoedeum
controle repressivo e civilizatório
exacerbado sobre as condutas so-
ciais –acabaexigindoum recalque
ou ummassacre dos desejos, sob
pena de severa repressão social.
Esse recalque é decorrente desta
obsessão pela ideologia do risco
zerode fabricaruma sociedade sem
riscosedar agarantiaúltimadeque
o riscodamorteviolentadeRobins
nãoexistemais. Estagarantiaúltima
dequea integraçãonacivilizaçãoé
garantidoradeuma soluçãodefini-
tivaparaaquestãodaagressividade
acaba tolhendo de vez a agressivi-
dade, impedindo asmanifestações
agressivasaqui eacoláe fabricando
umgrande retornodo recalcado–o
que já ensejou grandes catástrofes.
Jáanossa sociedade,mais tolerante
em relação a momentos regrados
de manifestação da libido (nesse
assunto o professor é um fino
conhecedor das nossas tradições),
permiteque, de temposem tempos,
esseelemento reprimidodavidaem
sociedade aflore e viva momentos
de desregramento mais ou menos
circunscrito e territorializado. O
que, obviamente, faz da nossa
sociedade uma panela commenos
pressãodoqueaseuropéias. Écom
base nesse lastro de reflexões que
a discussão sobre a publicidade é
umadiscussãopossível.Oprofessor
jádissevárias vezes que “nãoacha
estranho que o Brasil tenha esse
reconhecimento internacional da
sua produção publicitária”. Aqui
a publicidade acaba aparecendo
como uma forma de arte menos
regida por critérios racionais e
transcendentes, daquilo que é
artisticamente legítimo e daquilo
que é artisticamentedemau gosto.
A publicidade é imune a esses
padrões estéticos que, claro, serão
sempre conseqüência de uma re-
lação de forças dentro do campo
socialmenteautorizadoparadefinir
o que é a estética legítima de um
lugar. A publicidade acaba per-
mitindo manifestações mais res-
peitadoras das pulsões e da libido
dos artistas que as elocubram e
propõem.
Falta, ao campo da comunicação,
fazero seu inventário, o seuhistóri-
co. O campo da comunicação no
Brasil é um dos mais pujantes do
planeta. Existem poucos países
no mundo com uma produção na
áreadecomunicação tão relevante
como a nossa – e a presença do
professor Maffesoli, nesse campo,
éabsolutamentecentral em função
dos números que eu revelei no
começo daminha fala.
Professor, estamos aqui assumin-
do o compromisso de realizar um
evento que tem de ter uma visibi-
lidade que seja compatível com
o ineditismo da sua proposta. Eu
tenho certeza que oBrasil já conta
comcapitalhumano suficientepara
que,nesseevento, alcancemoscon-
clusões científicas relevantes. Para
essa que é a nossa preocupação
central: a constituição de uma
doutrina.Temosumcampopujante,
temos o interesse de produzir um
conhecimento, temos a boa von-
tade dos expoentes internacionais
para nos ajudar. Acho que a ESPM
deveeprecisaalavancar esseproc-
essoe sair na frente, navanguarda,
na produção desse conhecimento
antes que outras instituições o
façam. Acho que cabe ao campo
da comunicação a prerrogativa de
dizer por meio da publicidade o
queéa sociedadecontemporânea.
Nãoque issoexcluaaparticipação
de agentes de outros campos so-
ciais. Mas não há dúvida de que o
nossocampo temessedever social.
A essa pergunta que o professor
Gracioso fez hoje aqui, por mais
que eu tentasse, não sei responder.
Porqueapublicidadeé importante?
O professor Maffesoli, com a sua
prudência sábia disse: “podemos
alinhavar algumas hipóteses”. E eu
nãopoderia fazerdiferente.Háuma
boa intuição aqui: a publicidade e
a pós-modernidade são conceitos
que têm uma zona de tangência
indiscutível, mas, a verdadeira
naturezadessa tangência, evidente-
mente, aindanão temos condições
de responder. Uma coisa é certa:
responder que a pós-modernidade
tenha começado em 1935, 40, 50
ou 55 é menos um momento da
história emais umamaneira de re-
fletir sobre a humanidade. E, nesse
sentido, oprofessorMaffesoli citará
exemplos que datam da Filosofia
Clássica até hoje. E que são pós-
modernas pela sua maneira de
conceber as coisas domundo.
Encontro
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SETEMBRO
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OUTUBRO
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