Revista daESPM –Maio/Junho de 2003
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entrevista
JR–Emquesentido?
JM – O grau de desigualdade é
menor do que o nosso, embora
grande, porque a situação dos
índios é complicada. Mas o
Méxicoestáhojeemnível acima
donosso.Claroque isso temaver
um pouco com a sua opção pelo
mercado, a revolução mexicana.
Nós nunca tivemos uma; somos
umpaíssem revolução.
JR–Vocêchegaaafirmar, em
seulivro,queasguerrassãoum
importantefatordeformaçãode
identidadenacional.
JM – Não estou defendendo
guerra. É uma constatação
empírica. Mas, é fato que as
identidades nacionais fortes se
consolidaram emmomentos de
guerra. Isso porque, para você
desenvolver a idéia de uma
identidade–de“eu”oude“nós”
–,amelhor formadese fazer isso
é criar um “eles” ao qual você
possaseopor.Aocriarum“eles”,
vocêdeflagraa idéiade“nós”,que
antesnãoexistia.Éexatamenteo
fato de você se opor a um outro
que fazcomque, nesseprocesso,
vá definindo o que você é em
oposição ao outro. E as guerras
são exatamente isso: um outro–
eumoutrohostilquequerdestruir-
nos.Quantomaishostil,maisforte
éa reaçãodedefiniçãodaprópria
identidade.Eudefendo queaidéia
de Brasil, de uma identidade
brasileira, começou a surgir e se
desenvolver durante a guerra
contra o Paraguai. Naquele
momentocomeçouahaveraquele“eles
sãoeles” e “nós somos nós”. E, claro,
numa guerra há uma demonização do
outroeumaauto-santificação própria:
“Nóssomosbons,civilizadoseelessão
bárbaros”. É fenômenoconhecido.
JR – Vamos tentar fechar essa
questão da evolução dos direitos
noBrasil.
JM – Tendo em vista esse corte na
participação política, eu diria,
resumindo, que nós invertemos a
seqüência inglesa. A seqüência
cronológica e lógica deveria ser: os
direitos civis embasam os direitos
políticoseosdireitospolíticosembasam
os direitos sociais, porque, via direito
político, você reivindica direito social.
Então,a inversãofoiquasecompletana
medidaemqueoprimeirodireito–no