Maio_2003 - page 89

Revista daESPM –Maio/Junho de 2003
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Entrevista com JoséMurilo de Carvalho
maneiradeescrever.Escrevemosnum
dialeto tribal, oacademês. Então, todo
o ensino é precário. E a culpa não é
estritamentedaáreadehistória.Mas,
considerandoessaquestão,hátambém
esseproblemaaconsiderar: falarbem,
apresentaroBrasilpositivamente,como
algo crítico, e a resistência dos
historiadoresprofissionaisemescrever
para o grande público. Só
recentemente que um ou outro
estão-se dispondo a aceitar essa
tarefa como algo digno de um
professor.
JR–Mesmoassim, oalcance
do livro é limitado. Você se
referiu à Rede Globo – que
aindaénossograndecanalde
comunicação
nacional.
Quando eles fazem uma
novela,umasérieemquehaja
elementos históricos, não
creio que se preocupem em
chamar você, para uma
consultoria, ou um de seus
colegas. Você não acha que
seria uma forma – já que as
audiências são tão impor-
tantes – de desenvolver um
melhor conhecimento do
Brasil?
JM–Curiosamente, noCarnaval,
quando há enredo de natureza
histórica, eles fazem. Eu já fui
chamado–eváriosoutroscolegas
– para ajudar, dar assessoria aos
comentaristas.Éumpouco irônico.
O Brasil se sente cidadão – no
sentido de pertencer a uma
comunidade–emdoismomentos
de festa: noCarnaval e quando a
Seleção está em campo e joga
bem.Mas sempre foradoâmbito
político.Aindanão fomoscapazes
decolocarnapolíticaessa idéiade
umcidadãoativo, interventoreque
tem orgulho da história do país.
Vários acontecimentos fechados
na história do país foram
acontecimentos políticos e não
tiverammuitaparticipaçãopopular.
Então, tornou-se normal as
pessoasdizerem:“Não fuieu,não
participei disso”. Não há uma
sustentação de uma memória.
Memóriaéumahistória vivaque,
freqüentemente,éerradadoponto
devistahistórico,masquedáessa
sensação de pertencimento às
pessoas. Você vai a Boston e,
diariamente, tem lá a réplica do
navio de Boston Tea Party.
Encenamo tempo todo.
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