Maio_2003 - page 95

Revista daESPM –Maio/Junho de 2003
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Entrevista com JoséMurilo de Carvalho
A
presentaçãodo livroCIDADANIANOBRASIL* pelo jornalistaMauricio
Diaseditor doDigestivoCultural
Sómesmoumautor de reconhecida competência comoJoséMurilodeCarvalho
seriacapazdeescrevercomsegurançasobreosproblemasque retardamavivência
plenadacidadaniapelos,digamos, cidadãosbrasileiros.Umdosdesafiosdo tema
é a atração da simplicidade enganosa, que leva, quase sempre, a um intrincado
labirinto. Nessa armadilha o autor deste livro não cai.
Para rastrear os 178 anos dessamaratona, não concluída, JoséMurilo centra o
foco nos direitos civis, sociais e políticos que constituem algo parecido com a
santíssima trindadeda cidadania.
Já no interior do movimento de 1822 surge um obstáculo: “Em confronto com
outrospaísesdaAméricaLatina”, anotaJoséMurilo, “a independênciadoBrasil
foi relativamente pacífica.” O desenlace com Portugal, amistoso e negociado,
não é outra coisa senão a velha e insidiosa conciliação.Mas este é apenas um
dos muitos obstáculos que se repetem ao longo do caminho, numa monotonia
suspeita. Suspeita por se tratar da exclusão dosmovimentos sociais.
Masopovonãoparticipavotando?Ovotonãoé tudo,alertaoautor.Principalmente
um votoque, alémdeprisioneirodeumaobrigatoriedadeque transformadireito
emdever, vemsendodeformadopor interferênciasexternas. JoséMurilomostra,
já na origem do processo eleitoral, a atuação criminosa do “fósforo”. Hoje os
marqueteiros prolongam um processo que transitou do ilegal para o legal sem
perder, no entanto, a essência do objetivo: a falsificaçãodas vontades.
Mas se a participação transborda do voto, o pau canta. É o que acontece, por
exemplo, comoMovimentodos TrabalhadoresRuraisSemTerra, ummovimento
que, comerroseacertos, nasceudacosteladeum latifúndiode500anos.Diante
da reação raivosa àsmarchas doMST, ocorre, às vezes, formular umametáfora
dura contra certos formuladores das políticas públicas no Brasil. Eles imaginam
que o melhor dos mundos se faria com um povo cego, surdo, mudo e,
principalmente, paralítico.
JoséMurilodeCarvalho lança luzessobreesteeoutroscantosescurosdahistória
brasileira. Econstrói–aocontráriodoqueamodéstiao levaadizernoprefácio–
uma grande aula de cidadania.
MaurícioDias
Carvalho, JoséMurilode
CIDADANIANOBRASIL –O longo caminho, 4ª. Ed. –Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2003. 236 p.
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