Revista daESPM –Maio/Junho de 2003
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entrevista
Vargas,nãohaviainterpelaçãodopovoeelevoltoucom
essa interpelação.Mas,naépocadaeleição,sefalava
que isso ia ser uma revolução. Eeudiziaquehaviam
retomado uma tradição de Vargas, que havia
desaparecidoporqueopovo foi substituído, em certo
momento,porclasses,nosgovernosmilitares.Depois,
naredemocratização,foisubstituídopelocidadão,que
éalgodiferentedepovo.Agora, realmente,começou
a interpelar opovo, queéumacoisa, emsi, positiva.
Masficouclaro,nessesprimeiros100diasdegoverno,
que falar é fácil.Masninguémécontraesse tipode
coisa. Mas quando você começa, concretamente, a
entraremlegislação,emmedidasquepesamnobolso,
toda tradiçãocorporativadeprivilégiosgritaepulae,
aí,háumproblemapolítico.
JR–Opovobrasileiro, hoje, existe?
JM – Você está-se referindo ao que escreveu um
autor francês, LouisCouty, em1881–
LêBresil n’a
pas de peuple
– e que eu citei no meu livro
Os
Bestializados
.Sobre isso,aliás,houveumclamoroso
erro de tradução, pois na versão em português da
obra (
A Escravidão no Brasil
) ficou: O Brasil não é
povoado,emvezdeOBrasilnão tempovo...Maseu
diriaqueoBrasil tempovo, sim, interpretado sobo
pontodevistadepovopolítico.
JR–A frase foimuitoexpressiva,mesmodita
em1881–evocêa resgatou.
JM–Está-se formandoumpovopolíticonoBrasil,
no sentido de que se está formando uma opinião
pública nacional. E esse é o lado positivo damídia
eletrônica. Ela tem seus problemas, críticas,mas é
uma coisaqueestáacontecendoe tem tidoefeitos
políticos importantes – o
impeachment
do Collor,
eleições diretas. Posteriormente, o fenômeno da
campanha eleitoral, no ano passado, com a
governadora do Maranhão que era candidata à
presidência. Acho que foi um fenômeno típico,
pragmático. O que detonou uma candidatura à
presidência? A foto de ummonte de notas de 50
“D
opontode
vista
social
e
econômico,
somos
duas
grandes
nações.
”