Maio_2003 - page 93

Revista daESPM –Maio/Junho de 2003
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Entrevista com JoséMurilo de Carvalho
reais, nos jornais ena televisão. Não
houvenenhumamedidapolíticacontra
aquilo; simplesmente aquela foto.
Claramente, um enorme peso da
opinião pública – que os políticos
detectam–eque foi capaz dealterar,
profundamente,oquadro.Acaboucom
uma aliança política de oito anos e,
provavelmente,teveumefeitodecisivo
no resultado eleitoral. O povo não
precisa mais ir às ruas fazer
manifestação.Elaestádentrodecasa,
noscanaisde televisão.Achoque isso
éumdadopositivoeessaopiniãoestá
ficando cada vez mais intolerante,
sobretudo com a corrupção. Certos
candidatos podem, ainda, ter apoio
dentro de seus Estados, podem,
eventualmente, sobreviver em postos
legislativos, mas, nacionalmente, já
estão desmoralizados e condenados.
Essa é uma formação, talvez, mais
importante que o próprio voto, que,
freqüentemente, é determinado por
essas coisas. Uma pessoa pode,
ainda, ser eleitanos seus currais
eleitorais–aindaexisteeste tipo
de coisa – no entanto, o foco
nacional jáoscondenou.Poresse
ângulo, está-se formando essa
entidade,queestátendocadavez
mais poder, mais influência,
embora
de
maneira
freqüentementesutil.
JR – Para encerrar nossa
entrevista, você acha que
existem possibilidades de
carreiras interessantes em
História, noBrasil?Não falo
sódarecompensafinanceira.
Nãoseriabomparaopaísque
mais jovens escolhessem a
áreahistóricacomoatividade
profissional?
JM – É um debate que está
acontecendo dentro do próprio
segmentoprofissionaldehistória.
Quais seriam outras atividades
para o historiador que não a
atividade tradicional de dar aula
de história? Os próprios alunos;
quando pergunto em sala o que
eles querem fazer, a grande
maioria quer terminar a licencia-
tura e dar aula no ensino médio
ousuperior.Essaéapreocupação
profissional deles. Uma pequena
porcentagemquerfazermestrado,
doutorado.Algumascoisasnovas
estão surgindo, inclusive empre-
sas que se especializam em
contratartrabalhosdehistória.Por
exemplo, há pessoas que traba-
lhamnahistóriadeempresas, ou
naorganizaçãodedocumentação
dasempresas,oumesmoescrever
biografiashistóricas.Háexemplos
de algumas instituições
particulares dehistória– comoé
ocasodoCEPDOC–quevivemde
é mineiro de Andrelândia. Fez seu doutorado na Universidade de Stanford. Foi chefe de
DepartamentoecoordenadordoMestradodeCiênciaPolíticanaUniversidadeFederaldeMinas
Gerais. No Rio, desde 1978, foi professor e diretor de ensino do Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), considerado uma das nossas principais instituições de
ciênciapolítica. Em1997, tornou-seprofessor titular doDepartamentodeHistóriadaUFRJ. Foi
Diretor daAssociaçãoNacional dePós-GraduaçãoePesquisaemCiênciasSociais, Presidente
doComitê,AssessoremCiênciaPolíticadaCapes,membrodoJointCommitteeonLatinAmerican
Studies doSocial ScienceResearchCouncil; membro doComitêAssessor deCiências Sociais
do CNPq, membro da Comissão Permanente de Revisão do Arquivo Histórico do Itamarati,
ConselheirodaSBPC,membrodoConselhoda FINEP, doPENClubedoBrasil e sóciohonorário
do Instituto Histórico e Geográfico. Foi professor visitante e é convidado para seminários e
conferências emuniversidades de todoomundo.
LivrospublicadosnoBrasil
:
Os Bestializados. O Rio de Janeiro e a República que Não Foi,
São Paulo, Cia. das Letras, 1987
A Formação das Almas. O Imaginário da República no Brasil,
São Paulo, Cia. das Letras, 1990
AConstrução daOrdem e Teatro deSombras
, UFRJ/RelumeDumará, 1996
Pontos eBordados. Escritos deHistóriaePolítica
, Ed. daUFMG, 1999
A cidadanianoBrasil: o longoCaminho
, CivilizaçãoBrasileira, 2001.
JoséMurilo de Carvalho
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