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setembro/outubrode2013|
RevistadaESPM
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Brasileiro
émesmo
bonzinho?
Por que é que temos umíndice tão elevado
de reclamações quantoaoatendimento
das empresas noBrasil?De fatonão somos
ouvidos ouéuma consequênciadonosso
“jeitinho” de querer levar vantagememtudo?
Comoopaís da simpatia e doafetopode
colecionar tantos casos de insatisfação?
Por FábioMariano Borges
“B
rasileiro é tão bonzinho.” A frase,
citada nos anos de 1960 pela atriz
JacquelineMyrna, foi eternizada na
década seguinte por Kate Lyra, no
programa humorístico de televisão
A Praça da Alegria
.
Em um dos quadros, ela representava uma americana
ingênua que, ao ser galanteada por homens, acreditava
que tudo aquilo que eles faziam para lhe agradar provi-
nha da bondade do brasileiro. A frase ganhou as ruas, e
o marcante bordão foi transformado emmúsica.
O tempo passou, e a expressão deixou de ser usada no
dia a dia, mas ainda hoje aparece nas reuniões estratégi-
cas das empresas para explicar e classificar a atitude e o
comportamento do brasileiro nas relações de consumo,
tipificando-o como um consumidor que pouco reclama e
não exige seus direitos.
Trabalhando compesquisa demercado hámais de 20
anos, hoje ainda ouçomuitos executivos afirmando que
os índices de satisfação no Brasil são sempremais altos
que nos outros países, não porque atingimos umnível de
excelência ematendimento, mas devido à generosidade
do nosso povo. Esse comentário poderia encontrar expli-
cações na figura do homem cordial, descrito por Sérgio
Buarque deHolanda emseu primeiro livro (
Raízes do Bra-
sil
, 1936) e posteriormente em
O homem cordial
(Editora
Penguin-Companhia das Letras, 1995).