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R E V I S T A D A E S P M • A N O 2 8 • E D I Ç Ã O 1 2 3 • N º 1 • 2 0 2 2 • R $ 3 2 , 0 0 Há 70 anos abastecendo o mercado com líderes criativos, arrojados e inovadores EXCELÊNCIA ACADÊMICA ESPM

Templo do lifelong learning “ Aprender é a única coisa de que amente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende”, já dizia Leonardo daVinci, o futurista do século 15 que inventouos ancestrais dohelicóptero, do avião, do submarino, da bicicleta, dos teares automáticos, dametralhadora... desenhos que só ganhariam vida séculos depois de sua morte. Já naquela época umdos principais artistas renascentistas, o pai da Mona Lisa e do HomemVitruviano sabia da importância do lifelong learning para a evolução do indivíduo e da sociedade. Isso porque ele carregava em seu DNA o legado deixado pela Grécia Antiga, cuja cultura influenciou a linguagem, a arte, a arquitetura, a política, a filosofia, a ciência, a tecnologia e o sistema educacional, principalmente na Europa Ocidental, e serviu de base para moldar os pilares do mundo moderno. Tanto que a palavra “escola” vem do grego scholé e significa lugar do ócio, um espaço que no passado era usado pelas pessoas em seu tempo livre para refletir. “Leonardo da Vinci não era o melhor em todas as áreas do conhecimento, mas tinha uma capacidade única para reuni-las e criar algo novo. Aperfeiçoava o trabalho de outros homens de sua época e pensava em como resolver os problemas de seu mundo: guerras, manufatura, arquitetura, transportes”, garante o historiador italiano Claudio Giorgione, do Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci, que em2014 trouxe ao Brasil parte de seu acervo para expor na mostra Leonardo da Vinci, a natureza da invenção. Da Vinci era a personificação da “inusitude em constante movimento!”, conceito que permeia os corredores e salas de aula da ESPM há 70 anos e é pautado pela excelência acadêmica. Esta, por sua vez, aparece refletida nos altos índices de empregabilidade de nossos alunos, como aponta a Pesquisa do Egresso 2021, promovida pelo Grupo Cia de Talentos: o diploma da ESPM carrega junto com ele um indice de 91% de empregabilidade, que abre muitas portas, alavanca carreiras e aumenta salarios. Tanto que dos dez melhores CMOs do Brasil em 2022, segundo a revista Forbes, seis passaram pela ESPM! Tal constatação aparece refletida também nos depoimentos dos mais de 70 profissionais entrevistados que compõema edição especial de 70 anos desta instituição considerada pormuitos como sendo o templo do lifelong learning. “Em2014, fiz umMBA em ciencias do consumo na ESPM. Sou ex-aluna e fa dessa Escola que ha anos nos abastece de profissionais com mindset criativo”, assegura Gislaine Cristina Lima, diretora de desenvolvimento organizacional da Alpargatas. Isso é resultado de sete décadas de investimento em professores qualificados, infraestrutura completa e tecnologia de ponta, o que vem sendo construído ao longo dos anos sobre três pilares: excelência, perenidade e inovação. A seguir você confere muitas das verdadeiras obras de arte que a ESPM ajudou a formar e o que faz desta Escola um centro de referência para o estudo de administração, gestão, comunicação e marketing. Equipe de redação Revista da ESPM INFORMAÇÕES, LIGUE: (11) 5085.4508 – www.espm.br/revistadaespm EXPEDIENTE Conselho Editorial Dalton Pastore Jr. – Presidente Alexandre Gracioso Thomaz Souto Corrêa Coordenação Editorial Lúcia Maria de Souza Editora Assistente Anna Gabriela Araujo (MTB nº 28.072/SP) Edição de Arte Mentes Design Revisão Anselmo Teixeira de Vasconcelos Antonio CarlosMoreira Mauro de Barros Redação Rua Dr. Álvaro Alvim, 123 São Paulo – SP – CEP 04018-010 Tel.: (11) 5085-4508 Fax: (11) 5085-4646 e-mail: revista@espm.br Impressão Duograf Gráfica e Editora Ltda. Tel. (11) 3933.9100 Revista da ESPM Publicação trimestral da Escola Superior de Propaganda e Marketing. Os conceitos emitidos em artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos respectivos autores. Professores, pesquisadores, consultores e executivos são convidados a apresentar matérias sobre suas especialidades, que venham a contribuir para o aperfeiçoamento da teoria e da prática nos campos da administração em geral, do marketing e das comunicações. Informações sobre as formas e condições, favor entrar em contato com a coordenadora editorial. EDITORIAL

DIRETORIA EXECUTIVA DA ESPM • Dalton Pastore Jr. Presidente • Alexandre Gracioso Vice-presidente acadêmico e de graduação • Elisabeth Dau Corrêa Vice-presidente administrativo-financeira • Flávia Flamínio Diretora de operações acadêmicas • Rodrigo Cintra Diretor de internacionalização • Tatsuo Iwata Diretor nacional de pós-graduação e educação continuada • Adriana Cury • Andrea Salgueiro Cruz Lima • Antonio Fadiga • Antonio JacintoMatias • Armando Ferrentini • Armando Strozenberg • Claudio Carillo • Décio Clemente • Flavio Correa • FranciscoMesquita Neto • Giancarlo Civita • Jayme Sirotsky • João Batista Simon Ciaco • João Carlos Saad • João De Simoni Soderini Ferracciù • João RobertoMarinho • João Vinicius Prianti INSTITUIÇÃOMANTENEDORA • José Bonifácio de Oliveira Sobrinho • José Carlos de Salles Gomes Neto • Luiz Antonio Viana • Luiz Carlos Dutra • Luiz Lara • Marcello Serpa • Octávio Florisbal • Orlando Marques • Percival Caropreso • Roberto Duailibi • Roberto Martensen • Sérgio Amado • Sérgio Reis • Thomaz Souto Corrêa •Waltely Longo ASSOCIADOS • Armando Ferrentini Presidente • Armando Strozenberg • Décio Clemente • João Vinicius Prianti • Luiz Carlos Dutra • Orlando Marques • Roberto Duailibi • Sérgio Reis • Thomaz Souto Corrêa CONSELHO DELIBERATIVO Titulares • João Batista Simon Ciaco Presidente • Flavio Correa • João De Simoni Soderini Ferracciù CONSELHO FISCAL

REVISTA DA ESPM | EDIÇÃO 123 | 2022 6 Entrevista Eduardo Giannetti Nada neste mundo vem sem trabalho! Anna Gabriela Araujo Pág. 8 Educação transforma! Sofia Esteves Cursos da ESPM são propulsores de promoções no mercado de trabalho, como aponta estudo da Cia de Talentos Pág. 16 A necessidade de uma liderança genuína Alexandre Gracioso Os desdobramentos, novidades e conquistas do Plano Diretor Acadêmico da ESPMna formação de líderes capazes de transformar pessoas, equipes e negócios Pág. 20 ESPM: forever young Jaime Troiano Jovem, vibrante e atraente. Assim é a marca da ESPM, que há 70 anos ensina ao mercado a beleza de ser um eterno aprendiz! Pág. 26 Sucesso sucede 70 anos de investimento institucional em excelência acadêmica Cristina Helena Pinto de Mello Confira os bastidores da ESPM e a nova área de sucesso do docente e do discente criada para preparar alunos da instituição em três dimensões: desempenho no curso, na vida social e na trajetória profissional Pág. 32 O que nos diferencia! Adriana Gomes Veja como a área de Carreiras e Mercado da ESPM ajuda os estudantes a construir grandes e duradouras carreiras profissionais Pág. 54 Diploma de valor: Parallel Degree com University of London e ESPM Rodrigo Cintra, Bruno Araujo e Michele Lima Leal shutterstock Índice

EDIÇÃO 123 | 2022 | REVISTADAESPM 7 ARQUIVO ESPM Especiais As obras-primas da ESPM Conheça a trajetória de sete profissionais formados pela ESPM, que estão fazendo história no mundo corporativo Aqui, o que não falta é trabalho! 36 VPs, diretores e gerentes de RH de grandes empresas detalham o que esperam dos profissionais que estão ingressando no mercado 116 58 Ponto de vista Cumprindo nossa obrigação 126 Manual do alto executivo O que os headhunters procuram nos líderes do futuro e por que os alunos da ESPM figuram entre os preferidos nos processos de seleção 36 Escola investe na internacionalização de seus alunos, professores e cursos e ganha espaço mundo afora! Pág. 96 Como assegurar a qualidade acadêmica? Marcelo D’Emídio Os pilares do Plano Diretor Acadêmico e as iniciativas que fazemda ESPM uma das principais faculdades de administração, negócios, marketing e comunicação do mundo Pág. 102 Inovação transformadora: uma incursão pela excelência acadêmica do Live EAD Luciana Fátima da Silva e Luciara Bruno Garcia Pesquisa da Cia de Talentos aponta que a média salarial do alumni da pós-graduação da ESPM está acima do mercado. Entenda por que e como isso acontece na prática! Pág. 106 CMOs formados pela ESPM se destacam no ambiente de negócios BANI! Genaro Galli Seis dos dez melhores profissionais de marketing do Brasil, segundo a revista Forbes, passarampelas salas de aula da ESPM Pág. 112 ARQUIVO ESPM ARQUIVO ESPM

ENTREVISTA | EDUARDO GIANNETTI DA FONSECA REVISTA DA ESPM | EDIÇÃO 123 | 2022 8 Eduardo Giannetti da Fonseca Formação: Economia e Ciências Sociais pela USP e com Ph.D. em Economia pela Universidade de Cambridge Atuação: professor universitário Carreira: É autor de 11 livros de ficção e de não ficção, como Felicidade, O valor do amanhã e A ilusão da alma. No fim de 2021 foi eleito para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL)

EDIÇÃO 123 | 2022 | REVISTADAESPM 9 Nadanestemundo vemsemtrabalho! Por Anna Gabriela Araujo Foto: Divulgação Economista, filósofo, professor, palestrante e autor de diversos livros sobre economia do bem-estar e ciências sociais, Eduardo Giannetti da Fonseca aproveitou a pandemia para escrever O anel de Giges, que utiliza a fábula presente no segundo livro da República de Platão para falar sobre ética e valores da sociedade. Ao lançar a hipótese fantasiosa de como as pessoas agiriam se tivessem um anel da invisibilidade, ele convida o leitor a fazer um experimento mental de como seria viver sem impedimentos ou censura social. “O que você faria se pudesse ter a certeza da impunidade, sem nenhum tipo de restrição imposta, seja pela ameaça de punição das leis, seja pela reprovação e condenação da opinião alheia?”, questiona o famoso economista, que no fim de 2021 passou a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. “É possível pensar o anel no mundo digital, onde muitos se escondem no anonimato para falar e fazer coisas que jamais fariam no presencial. Este é um teste de autoconhecimento, que demonstra como nossa personalidade é repleta de camadas que não podem ser acessadas diretamente.” Nesta entrevista, Giannetti fala sobre o comportamento do ser humano, os rumos da economia mundial, o desenvolvimento da tecnologia, a triste realidade da educação brasileira e as oportunidades no mercado de trabalho na era pós-Covid. “Aquele modelo antigo de entrar numa empresa aos 19 anos e se aposentar com 65 anos acabou! E as empresas estão penando para atender às demandas das novas gerações.” Citando uma teoria do economista americano Gary Becker, Giannetti explica o que tem causado essa mudança significativa no ambiente corporativo. “Gary Becker, da Universidade de Chicago, costumava dizer que, a partir de um certo nível de renda, o controle do tempo vale mais que acréscimos na renda, o que é uma realidade hoje. Para muitos profissionais da nova geração, ser dono do seu tempo temmais valor do que ganhar mais!” Muita coisa mudou na sociedade nos últimos dois anos. Mas, segundo Giannetti, uma regra ainda continua válida, principalmente para aqueles que estão ingressando agora no mercado de trabalho: “Estudem e sonhem! Afinal, nada neste mundo vem sem trabalho!”

ENTREVISTA | EDUARDO GIANNETTI DA FONSECA REVISTA DA ESPM | EDIÇÃO 123 | 2022 10 Revista da ESPM — Seu último livro, O anel de Giges, fala sobre ética por meio de uma proposta quase lúdica, trabalhando com a hipótese fantasiosa de como as pessoas agiriam se tivessem o dom da invisibilidade. Com base nessa história, que análise você faz da sociedade atual? Eduardo Giannetti — A proposta do livro é a de oferecer um experimento mental que leve a pessoa a se colocar na situação de alguém que tem o anel da invisibilidade. O que cada um de nós revelaria sobre si se pudesse ter a certeza da impunidade, sem nenhum tipo de restrição imposta de fora, seja pela ameaça de punição pelas leis, seja pela reprovação e condenação da opinião alheia. Revista da ESPM — Vivemos uma espécie de versão digital da fábula de Giges? Eduardo — É possível pensar o anel no mundo digital, onde muitos se escondem no anonimato para falar e fazer coisas que jamais fariam no presencial. Este é um teste de autoconhecimento, que demonstra como nossa personalidade é repleta de camadas que não podem ser acessadas diretamente. A questão é que em dois anos vivenciamos mudanças que demorariam duas décadas para acontecer. Sofremos uma aceleração muito forte e agora precisamos trabalhar para que a internet não vire uma selva, uma cracolândia digital. Eu, por exemplo, não tenho rede social nem WhatsApp, porque quero proteger o meu tempo, a qualidade do meu trabalho e das relações. É maravilhoso ter acesso aos principais jornais do mundo e poder ler diariamente o Financial Times, o New York Times e o Guardian, mas duvido que alguém consiga ler Os irmãos Karamázov, último romance de Dostoiévski, na tela. Revista da ESPM — Em meio à pandemia, muitos afirmavam que teríamos uma sociedade mais justa e igualitária com o término dessa crise sanitária. O que representou esse período para a evolução do ser humano? Eduardo — Toda vez que há uma grande calamidade na trajetória humana surge essa ilusão e a esperança de que tudo será diferente. Com a pandemia, as pessoas se deram conta de que existemcoisas valiosas e preciosas no dia a dia, como um abraço ou um encontro, que só apreciamos quando perdemos. Mas isso já passou. Olhando para o momento de maneira mais estruturada, temos três grandes vetores de mudança: um mundo mais endividado — isso vale tanto para o setor público quanto para as empresas e as famílias; um mundo menos globalizado, com a pandemia revelando as vulnerabilidades da hiperglobalização e o quanto é complicado você ficar na dependência de poucos fornecedores de matérias-primas importantes, como os insumos farmacêuticos ativos — 80% desses insumos são produzidos por apenas dois países, Índia e China, e isso é um problema grave para o mundo. E, por último, um mundo mais digitalizado, mas este é um aprendizado em que ainda estamos engatinhando para achar o ponto certo de equilíbrio no uso das novas tecnologias. Revista da ESPM — Como você avalia os impactos dessa aceleração tecnológica na sociedade? Eduardo — Um dos maiores impactos é o fato de que os jovens estão perdendo a capacidade de empatia, de aprender a notar a sutileza e as nuances presentes em um relacionamento, porque passam muito tempo se relacionando no mundo virtual e deixam de desenvolver certas faculdades de entendimento e leitura do outro que só aparecem quando o encontro é ao vivo. Isso porque a tela filtra algum grau de emoção nas relações humanas. Há uns dez anos, durante uma entrevista para o Financial Times, o cineasta alemão Werner Herzog disse uma frase que hoje faz muito sentido: “A solidão humana crescerá na proporção exata do avanço dos meios de comunicação”. A sociabilidade humana está se empobrecendo. Lembro que, quando eu era criança, achava a TV horrorosa, porque via a família inteira em silêncio, sentada na sala, olhando para uma tela eletrônica. Hoje, ter uma famíOs jovens estãoperdendo a capacidade de empatia, de aprender anotar a sutileza e as nuances presentes emumrelacionamento, porque passam muito tempo se relacionandonomundo virtual

EDIÇÃO 123 | 2022 | REVISTADAESPM 11 lia reunida na sala assistindo à TV já é considerado um luxo! Revista da ESPM — Parafraseando o título de um de seus livros, diante desse avanço do mundo digital, qual é o valor do amanhã? Eduardo — Os problemas essenciais dos seres humanos não mudam. As dúvidas continuam rigorosamente as mesmas: como viver?; quanto sacrificar do presente para beneficiar o futuro?; quanto sacrificar do futuro para beneficiar o presente?; que valores regem minha existência?; sou uma pessoa para quem sucesso financeiro domina todas as outras relações ou estou disposto a sacrificar um pouco o lado materialista da vida para ter relações pessoais mais generosas?; quero me aprofundar na ética, na estética, nas artes ou nos esportes? Estas são escolhas fundamentais que irão determinar a vida da pessoa, o tipo de projeto que presidirá o tempo que nos é permitido respirar e sonhar. Tão impactante quanto o desenvolvimento tecnológico foi a enorme ampliação da expectativa de vida que experimentamos nos últimos tempos. Viver mais dificulta e altera muito nossas escolhas ao longo da vida. E ajuda a explicar por que o ato de fumar — algo que era tão glamoroso na geração dos meus pais — ganhou uma nova conotação na sociedade. Se você morre cedo por outras causas, o custo do tabagismo não se materializa, porque o dano que você está produzindo no organismo é abstrato. Agora, ao viver 90 anos ou mais, o dano do tabagismo passa a ser dramático e tira muito de sua qualidade de vida. O aumento na expectativa de vida também afetou o casamento monogâmico indissolúvel. Morrer aos 60 anos significa passar em média 30 anos com a mesma pessoa. Viver até os 90 anos significa ter de passar 60 anos ou mais com a mesma pessoa. Então, é bom pensar bem na hora de casar! Quando eu era criança, ter pais separados era exceção. Hoje, a exceção é a criança cujos pais continuam casados! Mas o aumento da expectativa de vida é apenas um dos fatores dessa mudança. É importante ressaltar que a sociedade conquistou graus de liberdade e expressão, principalmente as mulheres que deixaram de ser submissas e se libertaram da opressão e da obrigação de manter o vínculo matrimonial. Revista da ESPM — Você acredita que melhoramos enquanto sociedade? Eduardo — Eu não generalizaria, dizendo que avançamos em todas as frentes. Avançamos nas relações de gênero e raciais, por exemplo. Mas em outras áreas, como meio ambiente, temos problemas graves e sem solução à vista. Temos visto países batendo recorde de consumo de carvão nas termelétricas, enquanto assistimos a eventos climáticos extremos e acordos sendo assinados e simplesmente ignorados. O acordo de Kyoto e o acordo de Paris representam uma pantomima sinistra. É um retrocesso. Já na política, o mundo ainda está tentando entender essa polarização e ascensão de grupos de direita populista que não A solidão humana crescerá na proporção exata do avanço dosmeios de comunicação. A sociabilidade humana está se empobrecendo SHUTTERSTOCK.COM

ENTREVISTA | EDUARDO GIANNETTI DA FONSECA REVISTA DA ESPM | EDIÇÃO 123 | 2022 12 parece ter muito apreço pela democracia. Ninguém esperaria por isso empleno século 21. Revista da ESPM — E como está o mercado de trabalho neste cenário pós-pandemia? Eduardo — A ascensão da direita populista no mundo tem três pontos estruturais: a incorporação ao mercado mundial de trabalho de centenas de milhões de trabalhadores asiáticos, que são altamente produtivos e aceitam uma remuneração que é uma fração do que seus pares recebem. Isso fez com que trabalhadores do mundo inteiro perdessem poder de barganha e de renda e ficassem muito ressentidos e rancorosos. Este cenár io dramático está por trás do apoio que Donald Trump recebeu de boa parte da classe trabalhadora norte-americana. Outra questão foi a crise financeira de 2008/2009, que revelou algo gravíssimo sobre o sistema econômico no qual vivemos. Enquanto os bancos estavam ganhando centenas de bilhões de dólares, isso era lucro privado e ninguém ousava dizer que deveria ser socializado. Mas na hora em que começaram a perder dinheiro, resolveram socializar o prejuízo e aumentar a dívida pública para ganhar o jogo. Esse sistema revelou uma tota l disparidade de tratamento e uma t remenda injust iça . Por últ imo, o terceiro ponto é a insegurança gerada pelas novas tecnologias e o processo de digitalização pelo qual todos estamos passando. A tecnologia deixa as pessoas inseguras em relação ao futuro, porque é uma espécie de serial killer, que mata todo setor por onde passa. Foi assim com a indústria fonográfica, a indústria editorial, a publicidade... Revista da ESPM — E qual seria o caminho para reverter essa situação? Eduardo — O primeiro passo é saber por que e como isso aconteceu. E buscar respostas. . . temos de encontrar o que nos une para virar essa página sombria. Três valores fundamentais que poderiam unir as pessoas nesse campo democrático progressista são: a defesa intransigente da democracia como sistema de governo e aprimoramento da representação; a redução da desigualdade pela formação das capacidades humanas; e a valorização e preservação do patrimônio ambiental do nosso país. Revista da ESPM — Recentemente, você assumiu uma cadeira na Academia Brasileira de Letras em meio a um cenário devastador, que aponta um aumento de 171% no índice de evasão Três valores fundamentais que poderiamunir as pessoas no campodemocráticoprogressista são: adefesadademocracia; a reduçãodadesigualdade e apreservaçãodopatrimônio ambiental Atecnologiadeixaaspessoas insegurasemrelaçãoao futuro, porqueéumaespécie de serial killer , quemata todosetor por ondepassa. Foi assimcoma indústria fonográfica, a indústriaeditorial, apublicidade... SHUTTERSTOCK.COM

EDIÇÃO 123 | 2022 | REVISTADAESPM 13 escolar. Qual seria a política educacional mais adequada para a realidade que o Brasil enfrenta hoje? Eduardo — Em cur t íssimo prazo precisamos fazer uma avaliação corajosa do déficit de aprendizado produzido pela pandemia. Não podemos fingir que isso não aconteceu e temos de nos empenhar em corrigir essa perda. Preocupa muito a evasão escolar no ensino médio. É preciso atrair esse jovem para a escola e também aproximar o ensino médio da vida desse jovem, por meio de um ensino profissionalizante, mais conectado com as aspirações e necessidades dos brasileiros. A boa notícia é a de que teremos um novo cenário no médio prazo, com a queda significativa da taxa de fecundidade no país. Hoje, já estamos assistindo à redução no número de novos ingressantes no sistema educacional. Isso irá nos permitir melhorar a qualidade de ensino, uma vez que a concentração do invest imento em um número menor de alunos nos dá a oportunidade de caprichar no conteúdo e de ter uma educação mais voltada às competências humanas. O que não pode continuar é a fantasia de achar que toda criança que conclui o ensino fundamental adquire o grau, as habi lidades e as competências requeridas. Omesmo acontece com o ensino médio e o ensino superior do Brasil, que inflacionou a concessão de graus e certificados acadêmicos. Eu gostaria que fosse resgatado o lastro de uma credencial acadêmica como ensino fundamental completo e a garantia de que de fato a pessoa não é um analfabeto funcional. Hoje, uns f ingem que ensinam, outros fingem que aprendem e tudo termina emdiploma! Revista da ESPM — Como o mundo corporativo reage a esse fato? Eduardo — As empresas estão fazendo um esforço cada vez maior para compensar o déficit do nosso sistema educacional, tendo de suprir seus colaboradores de formação com a qual já deveriam contar. Mas é preciso lembrar que o Brasil universalizou o acesso ao ensino fundamental no fim do século 20. Já os Estados Unidos — ex-colônia como nós — fizeram isso um século antes. E a universalização brasileira émais nominal do que real. Aqui dentro podemos nos enganar o quanto quisermos, mas na hora em que sai para fazer o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o problema aparece, com o Brasi l nas últ imas colocações do mundo em termos de aprendizado em leitura, matemática e ciência. Ainda assim, muitos jovens acreditam que o mais importante é ter o diploma. Estão totalmente enganados. O diploma que não tem lastro é apenas um papel pintado, e quando chegar ao mercado de trabalho, esse jovem vai sofrer Revista da ESPM — Qual é ou deveria ser o papel das universidades brasileiras na vida da sociedade? Eduardo — Eu fui professor em Cambridge, na Inglaterra, na USP e no Insper e posso afirmar que a diferença fundamental que observei nessas exEmcurtíssimoprazoprecisamos fazer umaavaliaçãocorajosadodéficit de aprendizadoproduzidopelapandemia.Nãopodemos fingir que issonãoaconteceu e temosdenosempenhar emcorrigir essaperda SHUTTERSTOCK.COM

ENTREVISTA | EDUARDO GIANNETTI DA FONSECA REVISTA DA ESPM | EDIÇÃO 123 | 2022 14 periências é a de que o universitário brasileiro em São Paulo acredita que fazer faculdade é assistir às aulas e passar nas provas. Já o universitário inglês em Cambridge sabe que, além de assistir às aulas e passar nas provas, ele está tendo a oportunidade de se educar para a vida e, por isso, é estudante em tempo integral. Durante os quatro anos de faculdade, ele se dedica a conhecer e a explorar — mesmo não estando em sala de aula, ele está no campus vivendo uma experiência educacional integral. Aqui, o aluno brasileiro já entra na faculdade querendo fazer estágio. Na ânsia de ingressar nomercado de trabalho, ele acaba jogando fora a oportunidade de ter uma formação educacional completa, uma aprendizagem que não se repetirá na vida dele. Revista da ESPM — Hoje, os ciclos de carreira estão mais curtos, porque os próprios conceitos de emprego e de sucessomudaram. Até que ponto essa dança das cadeiras, principalmente entre o público jovem, contribui para o desenvolvimento da economia do bem-estar? Eduardo — A pessoa é instada a se repensar e a pensar em atividades nas quais veja sentido em fazer. Mas nada em excesso. É preciso ter foco para não ficar pulando de um lado para outro. De qualquer forma, aquele modelo antigo de entrar numa empresa aos 19 anos e se aposentar com 65 anos acabou! E as empresas estão penando para atender às demandas das novas gerações. Revista da ESPM — Estabilidade versus propósito de vida. O que esse choque de interesses causa na sociedade? Eduardo — Eu espero que o propósito de vida tenha cada vez mais peso na vida dos profissionais do que tinha no passado, quando a estabilidade era muito valorizada e alimentada pelo sonho de ser funcionário público. O fato é que pessoas mais qualificadas se tornam mais exigentes, principalmente no quesito qualidade de vida. O grande economista Gary Becker, da Universidade de Chicago, dizia que, a partir de um certo nível de renda, o controle do tempo vale mais que acréscimos na renda, ou seja, ser dono do seu tempo temmais valor do que ganhar mais — o que já é uma realidade para muitos jovens no Brasil, especialmente para aqueles que têm mais sucesso nas atividades que exercem. São jovens profissionais que querem exercer aquilo que fazem bem, nas condições que eles estabelecem. Revista da ESPM — Em 2002, você escreveu Felicidade: diálogos sobre Aquelemodelo antigo de entrar numa empresa aos 19 anos e se aposentar com 65 anos acabou! E as empresas estão penando para atender às demandas das novas gerações. OgrandeeconomistaGaryBecker, daUniversidadedeChicago, diziaque, apartir de umcertonível de renda, ocontroledo tempovalemaisqueacréscimosna renda, ou seja, ser donodoseu tempo temmaisvalor doqueganharmais SHUTTERSTOCK.COM

EDIÇÃO 123 | 2022 | REVISTADAESPM 15 o bem-estar na civilização, um livro que mostra que, a partir de um certo nível de renda, ganhar mais dinheiro não necessariamente gera felicidade. Em tempos difíceis, como os dias atuais, as pessoas são menos felizes? Eduardo — É difícil medir esse índice, principalmente após uma pandemia — quando os níveis de felicidade desabam, com todos inseguros, melancólicos e tolhidos. Empiricamente, o que sabemos é que países que tiveram crescimento forte em sua renda per capita, não observaram aumento no bem-estar subjetivo da população. Durante muito tempo, economistas trabalharam com a hipótese de que, quanto mais se ganha, mais feliz será. Mas não é o caso. Essa correlação estreita entre renda per capita e grau de felicidade simplesmente não existe! O uso correto do tempo, as relações pessoais e o ambiente institucional afetam demais esse índice de bem-estar subjet ivo. Em relação à idade, a curva da felicidade é muito curiosa: começa apontando que os jovens são mais felizes, depois cai, faz um U na meia-idade e, por volta dos 50 anos, começa a subir novamente. E esse movimento em U é verificado em diferentes contextos no mundo todo. Então, quem está passando pelo “vale da meia-idade”, não se desespere, porque é uma fase que vai passar! Filhos pequenos, pais idosos, preocupação com aposentadoria... émuita ansiedade que depois passa e a pessoa fica liberada para voltar a aproveitar a vida! Revista da ESPM — Quando lançou o Elogio do vira-lata, você afirmou que “não ter pedigree” é um caminho civilizatório tão válido quanto os trilhados por sociedades tidas como exemplos de desenvolvimento. A regra continua válida? Eduardo — Sim, e voltou com força total neste período pós-pandemia. O verdadeiro complexo de vira-lata é a ideia de que há algo errado em ser vira-lata. Isso é o que somos: uma mistura de raças que nos tornam únicos. Espontaneidade, capacidade de improvisação e alegria de viver são atributos da nossa condição de vira-lata que precisamos saber valorizar e não nos envergonhar disso! É por isso que digo: entre o dobermann da polícia e o poodle da madame, eu prefiro ser vira-lata! Revista da ESPM — Para finalizarmos esta entrevista, que mensagem você gostaria de deixar para os jovens que estão começando a trilhar sua carreira no mercado de trabalho? Eduardo — Estudem e sonhem! Afinal, nada neste mundo vem sem trabalho! Por mais talentosa que a pessoa seja por dotação genética, se ela não trabalhar, isso não frutifica. Como professor por mais de 20 anos, vi pessoas que tinham tudo para ter muito sucesso na vida, mas que, por falta de disciplina, trabalho e compromisso, se perderam! Assim como conheci outras que não eram tão talentosas naturalmente, mas que, por empenho, persistência e perseverança, construíramgrandes projetos! Estudemesonhem!Afinal, nadanestemundovemsemtrabalho! Pormais talentosaqueapessoasejapor dotaçãogenética, seelanão trabalhar, issonão frutifica. SHUTTERSTOCK.COM

REVISTA DA ESPM | EDIÇÃO 123 | 2022 16 Educação transforma! ESPMé propulsora de promoções no mercado de trabalho, aponta estudo desenvolvido pela Cia de Talentos Por SofiaEsteves PANORAMA shutterstock.com

EDIÇÃO 123 | 2022 | REVISTADAESPM 17 Acho difícil encontrar alguémque discorde da máxima que diz que a educação transforma. É por meio do ensino, do conhecimento e do aprendizado que as pessoas são alcançadas e, assim, se tornam agentes da transformação no mundo. Para que isso aconteça, no entanto, é necessário dar oportunidades aos nossos jovens. Oensino vai fornecer as ferramentas necessárias para que os talentos atuem, mas omercadode trabalho tambémprecisa abrir espaço paraque issoaconteça. Paraque a teoria seja colocada em prática e para que o conhecimento gere ação. Hoje, 91% dos egressos da graduação da Escola Superior de Propaganda eMarketing (ESPM) fazemparte desse grupo. Este percentual apareceu comdestaque durante a tabulação dos números levantados na quinta edição da Pesquisa de Egresso, realizada por meio da parceria entre a Escola e a Cia de Talentos. Este estudo apontou umcrescimento no número de graduados que estão trabalhando, índice que passou de 86% em 2020 para 91% em 2021. No sentido oposto, observamos uma feliz queda na porcentagem de desempregados, de 10% em 2020 para 6,5% em 2021. Ao todo, foramescutados 1.073 alunos formados, sendo 430 da graduação, 557 da pós-graduação lato sensu e 86 da pós stricto sensu. E estamesma boa notícia que compartilhei acima se repetiu entre os egressos da pós-graduação lato sensu. Se 94% deles estavam trabalhando em 2020, no ano seguinte o resultado subiu para 96%. Quero fazer uma pausa aqui, para destacar o peso desses dados em meio ao cenário no qual eles foram colhidos. Não é necessário nemapresentarmais números, afinal todos nós sabemos o quão desafiador está o mercado de trabalho para os brasileiros nos últimos tempos. Especialmente paramulheres, pessoas negras e jovens entre 19 e 29 anos, grupos que, segundo análise do Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea), foram os mais afetados ao longo da pandemia. Chegar em2022 eolhar paraos resultados dapesquisa deegressosdaESPMéumavitória!Umavitóriaque, como todosnós tambémsabemos, precisachegar amais emais pessoas para transformarmos de verdade o nosso país. Potencial para o futuro Além de olharmos para a quantidade de egressos ocupando umposto de trabalho formal, também investigamos o índice de empregabilidade — o que significa analisar como os profissionais que passarampelas salas de aula da ESPM estão diante das demandas do mercado. Calma, vou explicarmelhor. Esse indicador é uma forma de relacionar as habilidades do talento com as de seus concorrentes e as competências exigidas pelo mundo do trabalho, levando emconsideração tanto soft quanto hard skills, alémde variáveismacroeconômicas. Assim, este índice representa uma forma de as pessoas terem mais noção, por exemplo, da probabilidade de conseguiremumemprego novo, de conquistaremuma promoção ou até mesmo de seremdesligadas de uma empresa. Em resumo, a nossa intenção não era ter apenas uma fotografia do momento presente e saber quantos formados têmumacarteirade trabalhoassinada,masconseguir enxergar longe, visualizarofuturodosalunosquesaemda ESPM. Eo resultado foi oseguinte: nocasodosgraduados, o índicedeempregabilidadeatingeacasade88,60%—indicador que temsemantido estável ao longodas edições da pesquisa,mesmo emmeio às crisesmais recentes. Já em relação aos pós-graduados da ESPM, o estudo avaliou aquela capacidade de mobilidade de emprego que comentei anteriormente. O índice do lato sensu ficou em 80,07% e o do stricto sensu, em 77,50% — resultados que também se mantiveram estatisticamente estáveis ao longo das edições. Tudo isso é muito interessante, mas eu imagino que você deva estar querendo saber qual é o impacto prático desse indicador, certo? E... se todo o investimento de tempo, energia e dedicação dos estudantes deu frutos para alémdo ganho de conhecimento? Vamos lá, então. Subindo os degraus da carreira Apesar de ser uma entusiasta do ensino e de acreditar que ele, por si só, já vale todo o esforço, entendo que é natural as pessoas buscarem por resultados práticos. Estudamos pelo prazer do aprendizado, mas também Entre os formandos daESPM, o índice de empregabilidade atinge a casade 91%– indicador que temsemantido estável ao longodapesquisa

PANORAMA REVISTA DA ESPM | EDIÇÃO 123 | 2022 18 para alcançar novos desafios,mudar de trabalho e, claro, melhorar a nossa situação financeira. Foi oqueaconteceu, por exemplo, com46%dospós-graduados lato sensu, que aumentaramo nível de complexidadedasatividadesprofissionaisapóso términodocurso na ESPM. Vale destacar tambémque 20% foramcontratados em umnovo emprego ou mudaramde trabalho. Outra análise que nos chamou a atenção foi que, depois dapós-graduação, aporcentagemdeprofissionais que ocupavam cargos de analista diminuiu. Explico: é que, antes do início das aulas, 53% dos alunos desempenhavam esse papel nas empresas nas quais trabalhavam e, depois de devidamente pós-graduado, esse grupo ficou menor, com 36% de analistas entre os formados. Quando fomos olhar para a quantidade de alunos em cargos de gestão antes e depois do curso, uma mudança importante também foi percebida: a média de 32% antes da pós-graduação subiu para 53% das pessoas exercendo alguma função de liderança após estarem com o diploma da ESPM emmãos. E, veja bem, a questão aqui não é o status. Não é que umdiploma torna alguémsuperior. Adiferença está, na verdade, na bagagemque o ensino nos traz. Tanto uma bagagemteórica, como ganho de novos conhecimentos, a possibilidade de esclarecer dúvidas e a oportunidade de abrir horizontes, quanto uma bagagem de relacionamentos. Estou me referindo às habilidades sociais que também desenvolvemos no ambiente de ensino. Precisamos lembrar que uma sala de aula é umespaço de aprendizado não só pela dinâmica com os(as) professores(as), mas por conta da possibilidade de conhecer outras pessoas. Formar, ampliar e fortalecer uma rede de contatos — o tal do networking, sabe? Tudo isso junto faz com que os alunos saiam do curso não com um diploma, mas com experiência. Não à toa, quando investigamos quais as principais dificuldadesparaconseguirumemprego, 57%dos respondentes no grupode graduados apontarama faltade experiência ou qualificação como um grande empecilho. E é essa falta uma das lacunas que o ensino tenta preencher. As motivações por trás das mudanças Quando olhamos para as movimentações dos talentos no mercado de trabalho, tão importante quanto entender quais cargos e áreas de atuação eles estão buscando é tentar identificar o porquê damudança. Para ser mais precisa: osporquês, noplural. Issoporque, normalmente, as pessoas levamemconsideraçãomúltiplos fatores na hora de trocar um crachá por outro. Analisando especificamente os pós-graduados, notamos que 31% dos respondentes lato sensu trocaram de emprego nos últimos seis meses por escolha própria e 21% no caso do stricto sensu. Quandoperguntadossobreamotivaçãodessamudança, amaioriadoprimeirogrupodissequerecebeuumaproposta commaiorperspectivadecrescimentoprofissional.Maior oportunidade de desafios e de desenvolvimento também foicitadacomfrequênciaparajustificaratrocadeemprego, alémdedois fatoresque têmpesadoaindamaisdesdeque omodelohíbridodetrabalhoganhouespaço.Estoufalando da busca por empregos que possibilitemmaior qualidade de vida e ofereçamhoráriosmais flexíveis. Se é verdade que as pessoas querem trabalhar emum bomambiente e emum lugar que as faça crescer profissionalmente, tambémé verdade que elas se preocupam emmelhorar seu salário — uma das justificativas dadas pelos respondentes da pesquisa que fizeramamudança de emprego. Impacto no bolso Agora que você sabe que uma quantidade significativa de egressos trocou de trabalho por conta do salário, aposto que está curioso para saber mais informações sobre o assunto. Mais especificamente quantos zeros aparecemno pagamento mensal. Antes disso, é importante lembrar que a remuneração dos trabalhadores vem sofrendo nos últimos anos devido ao cenário de pandemia, à inflação e ao desemprego. Este efeito também aparece quando analisada a média salarial dos egressos da ESPM, mas, ainda assim, os resultados se mostram acima da média geral dos concorrentes. No caso da graduação, a média salarial dos alumni da ESPMem2021 foi de R$ 4.725,82 ante os R$ 2.830,15 dos concorrentes. Ex-alunos da pós-graduação lato sensu registraramumamédia salarial deR$7.931,07, enquanto os egressos de outras instituições apresentaram uma média de R$ 6.181,06. Por último, temos o pessoal que cursou pós stricto sensu na ESPMganhando em torno de R$ 12.002,94 por mês.

EDIÇÃO 123 | 2022 | REVISTADAESPM 19 Comparando os resultados comomercado, também percebemos que, de forma geral, aqueles que se formam na ESPM se sentem mais preparados para as exigências do mundo do trabalho. Quando perguntados se atualmente se sentem qualificados para enfrentar os desafios do dia a dia profissional por causa do curso que fazem ou fizeram na universidade, 97% dos jovens da ESPM responderam que sim, ante 70% dos jovens brasileiros que participaramda última edição da pesquisa Carreira dos Sonhos, da Cia de Talentos. Parceria entre estudantes e universidade Depois de passar por todos estes dados, gostaria de terminar este artigo lembrando o que escrevi lá no início. Comecei destacandoopoder transformador da educação e, no decorrer dos parágrafos, comentei sobre a quantidade de ex-alunos da ESPM com carteira de trabalho assinada, o índice de empregabilidade, a capacidade de mobilidade no mercado de trabalho, a capacitação técnica e social e amédia salarial. Números e porcentagens que devem ser celebrados. Números e porcentagens que também devem ser anal isados para além dos dados estatísticos, para além desses dígitos que acompanharam você, leitor, ao longo deste texto. Estou me referindo aos agentes por trás dos números: os estudantes e a universidade. Na verdade, me refiro à relação entre aqueles que ensinam e aqueles que aprendem. É ela quem gera todos estes dados que você acabou de consumir. É o ato de ter alguém disposto a ensinar e, do outro lado, uma pessoa comdesejo de aprender que faz comque, depois de estabelecida essa parceria, seja possível traduzir tudo isso em dígitos. São essas relações humanas, antes de tudo, que garantem os resultados. A educação é transformadora não só por conta de todos estes dados de destaque que compartilhei. A educação é transformadora porque, antes de tudo, existem pessoas ali dispostas a ensinar e a aprender, dispostas a criar uma relação que, aí sim, vai mudar omundo. Omeu desejo é que você faça parte desses resultados de sucesso, porém, mais ainda, que desempenhe umpapel nessemundo emtransformação. Uma transformação rumo a um futuro melhor!. Sofia Esteves Fundadora e presidente do Conselho do Grupo Cia de Talentos/Bettha.com shutterstock.com Quando investigamos quais as principais dificuldades para conseguir umemprego, 57% dos respondentes no grupo de graduados apontarama falta de experiência ouqualificação comoumgrande empecilho

REVISTA DA ESPM | EDIÇÃO 123 | 2022 20 Anecessidadedeuma liderançagenuína Novo Plano Diretor Acadêmico da ESPMestimula a formação de líderes capazes de engajar equipes e transformar negócios, por meio da criatividade, da ousadia, de uma liderança a um só tempo pragmática e humanizada! Por AlexandreGracioso ESTRATÉGIA shutterstock.com

EDIÇÃO 123 | 2022 | REVISTADAESPM 21

ESTRATÉGIA REVISTA DA ESPM | EDIÇÃO 123 | 2022 22 Háquasedez anos, emjulhode 2013, aESPM dava um grande passo para promover a renovação acadêmica da instituição ao aprovar uma importante peça de direcionamento estratégico: o Plano Diretor Acadêmico, ou PDA, um documento bastante avançado para a época, que virou a estrela-guia das ações da instituição. Em sua primeira versão, o PDA previa que a implantação plena das iniciativas não se daria antes de 2020, o que efetivamente ocorreu: as primeiras turmas de graduação que passarampor todo o processo de aprendizagem idealizado no PDA foramas que entraramna ESPM em 2016 e se formaram entre os anos de 2019 e 2020. Aomesmo tempo que coloca o estudante na posição central do processo de aprendizagem, o PDA vai além, ao considerar não somente a dimensão acadêmica da pessoa,mas tambémo indivíduona sua totalidade. Com isso, é possível identificar e explicar o perfil transformador para a comunidade interna e para a sociedade como um todo. Transformadores e transformadoras são pessoas inquietas, questionadoras, que desafiam as soluções conhecidas e propõem caminhos radicalmente novos. Ao longo da sua história, a ESPM sempre se caracterizou por “atrair idealistas e pela capacidade de sustentar uma cultura pautada em ousadia, inovação e vanguardismo”, como aponta o documento do Plano Diretor Acadêmico da ESPM. Assim, o processo de aprendizageme formação desse agente transformador passou a ser ancorado emquatro pilares fundamentais: o papel do docente; o aproveitamento estratégico de situações de aprendizagem que contextualizam o conteúdo a ser aprendido; o uso de vivências como ponto central do processo de aprendizagem; e a oferta de currículos flexíveis aos estudantes (ver Figura 1). Com o atingimento dos objetivos inicialmente propostos na versão original do PDA, nesta nova década fez-se uma revisão e atualização do planejamento para impulsionar a contínua evolução da instituição, em um ambiente bastante diferente daquele em que nos encontrávamos quando o plano foi redigido. Essa nova versão do PDA dá grande ênfase ao autoconhecimento e à autoconsciência. O PDA original pedia que a Escola se posicionasse a favor da realização do projeto de transformação do estudante. Mas não lançava luzes sobre o processo de autodescobrimento individual, nem sobre as qualidades necessárias para mobilizar pessoas e recursos a nosso favor. O repensar do PDA se dá no momento em que um modelo renovado de liderança semostra fundamental. OBrasil emesmo omundo estão sofrendo coma falta de líderes genuínos e mobilizadores e isso afeta as estruturas sociais e também as organizações empresariais. Não há como cumprir uma agenda transformadora sem exercer a liderança, sobre si próprio e sobre os outros. Mas, quais são as características de uma líder excepcional? Embora talvez nunca tenhamos a última palavra sobre esse assunto, me parece que temos a primeira: autoconsciência. Quando os 75 membros do Conselho Consultivo da Stanford Graduate School of Business foram convidados para recomendar a capacidade mais importante para os líderes desenvolverem, sua resposta foi quase unânime: autoconsciência. (GEORGE, SIMS, McLEAN, & MAYER, 2007) No livro InteligênciaEmocional (EditoraObjetiva, 1996), Daniel Goleman afirma que autoconsciência é o pilar fundamental para o desenvolvimento de inteligência Fonte: ESPM, 2013 FIGURA 1 – O TRANSFORMADOR NO CENTRO DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

EDIÇÃO 123 | 2022 | REVISTADAESPM 23 emocional, o fator que seria mais determinante para o sucesso de um profissional ao longo de sua carreira. Para Rasmus Hougaard, é impossível uma pessoa se qualificar para a liderança organizacional semantes trilhar o caminho, por vezes árduo, do autoconhecimento e da autoconsciência, como ele aponta no artigo The Mind of the Leader: How to lead yourself, your people and your organization to extradiornary results, publicado em2008, na Harvard Business Review Press (Figura 2). Por vezes utilizados como sinônimos, estes termos se referem a habilidadesmentais diferentes,mas que sãonecessárias ao bom exercício da liderança. São dimensões complementaresdeumapessoaque conquistaumavisãomenos embaçada de si próprio (autoconhecimento), em todos osmomentos e emtodas as situações (autoconsciência). O PDA apontava para essa necessidade ao colocar o projeto do estudante como peça fundamental de engajamento no processo de aprendizagem. Ao fundar uma organização, ou ao ascender os escalões da carreira executiva, ter propósitos e ideais claros é fundamental tanto para o engajamento das equipes quanto para a própria sobrevivência do empreendimento. Na obra School for Gods (Sinedie Publishing, 2016), Stefano Elio D’Anna, fundador da European School of Economics, defende a ideia de que “[U]ma empresa é tão vital, rica e duradoura quanto os ideais e princípios de seu fundador”, comenta D’Anna. Infelizmente, a maior parte Fonte: HOUGAARD, 2018 FIGURA 2 – DO AUTOCONHECIMENTO À LIDERANÇA ORGANIZACIONAL AESPMsempre se caracterizou por atrair idealistas e pela capacidade de sustentar uma cultura pautada emousadia, inovação e vanguardismo shutterstock.com

ESTRATÉGIA REVISTA DA ESPM | EDIÇÃO 123 | 2022 24 das pessoas, incluindo-se aí o seleto grupo de líderes organizacionais nos mais elevados escalões, é incapaz de explicitar seus ideais e princípios. Na verdade, há indícios de que escolas de negócios tradicionais podem estar cerceando a capacidade criativa das pessoas que passam por elas. Em Eclipse of rent-sharing, artigo publicado emmarço de 2022, os economistas Daron Acemoglu, Alex Xi He e Daniel le Maire apresentam fortes evidências de que gestores com diplomas de negócios, especialmente os MBAs, melhoramos resultados das organizações que lideram por meio do achatamento de salários, emvez de inovação e crescimento. Eles argumentamque os resultados estatísticos obtidos são causados pelos valores incutidos nos estudantes durante os programas de gestão, e não por uma inclinação pessoal dos gestores. Esta conclusão equivale a um tapa na cara na ideia de que CEOs com formação em negócios saberiam aproveitar melhor as oportunidades e criar estratégias de longo prazo que engajem os colaboradores em todos os níveis. Outra conclusão, que, na opinião dos autores, seria possível de se colocar a partir dos resultados deste artigo, é que precisamos de uma nova escola: uma escola em que as pessoas aprenderão a se conhecer melhor, a descobrir seu propósito, a se observar, a liderar de forma genuína. A renovação e a relevância do PDA no contexto de um mundo necessitado de uma liderança autêntica, ainda mais no momento em que devemos lidar com as consequências de dois anos de pandemia global, se dão pelo aprofundamento da autoconsciência como pilar para a transformação dos negócios e da sociedade. A versão mais recente dos cursos de graduação da ESPMcorresponde àsmatrizes introduzidas em janeiro de 2020. Esse movimento foi o resultado de um planejamento de dois anos, ao longo dos quais repensamos todas as matrizes de tal forma a priorizar as grandes ideias de cada disciplina, revisamos estratégias emétodos de aprendizagem, reforçamos a ênfase no perfil “transformador” que desejamos para nossos egressos e introduzimos o LifeLab, que é um eixo de desenvolvimento de conhecimentos e competências focados no autoconhecimento e na contribuição efetiva do indivíduo para com a sociedade (Tabela 1). É significativo que a pesquisa Carreira dos Sonhos da CompanhiadeTalentosvenhafalandoempropósitodesde 2016 nos seus relatórios anuais sobre os sonhos dos profissionais brasileiros. Em2019, o relatório afirmava que: As pessoas querem empregos que se ajustem ao seu estilo de vida, que ofereçam oportunidades de crescimento e as conectem verdadeiramente a um significado e propósito maior. No relatório de 2020, a pesquisa perguntou se os líderes das empresas em que os respondentes trabalhavam os faziam ficar entusiasmados com o futuro. Os resultados, a meu ver, foram um alerta para a carência TABELA 1 – GRADE DO LIFELAB ESPM Disciplinas ofertadas no primeiro semestre de 2022 Disciplinas que serão incorporadas à oferta do LifeLab a partir do segundo semestre de 2022 • Laboratório de Aprendizagem; Criatividade • Ciência e Tomada de Decisões; Introdução à Lógica • Fundamentos de Computação e Programação • Finanças Pessoais • Propósito e Carreira • Apresentação de Ideias e Projetos • Atitude Empreendedora • Ética, Cidadania e Responsabilidade • Felicidade • Negociação e Gestão de Conflitos • Liderança • Pensamento Artístico

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